São Paulo, segunda-feira, 29 de maio de 1995
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Os senhores dos escombros

MARCELO BERABA

SÃO PAULO - Eles são os campeões nacionais na obtenção de favores e subsídios. Mesmo assim, lideram a lista de devedores inadimplentes dos bancos oficiais.
São beneficiados e protegidos há dezenas de anos pelos governos federal e estaduais e donos de seus municípios. Mesmo assim, foram incapazes de construir uma economia moderna e competitiva.
São os herdeiros tolerados do que restou do lixo colonial, os senhores escravocratas maquiados de empresários liberais. São o atraso do atraso do que o capitalismo brasileiro tem de mais atrasado.
São os usineiros de Alagoas e de Pernambuco.
Para quem não leu na edição de ontem da Folha a reportagem de Ari Cipola, um brevíssimo resumo do último escândalo desses senhores: usinas e fazendas de cana de Alagoas e Pernambuco demoliram, em quatro anos, 90 mil casas de trabalhadores rurais que existiam dentro de suas terras.
Objetivo das destruições: descaracterizar, com a remoção desses trabalhadores, o vínculo empregatício e desobrigar usinas e fazendas ao pagamento dos encargos trabalhistas.
Já vimos plantadores de cebola jogarem toneladas do produto fora para garantir preço. Mas demolir casas?
Cada crédito facilitado para esses senhores, cada subsídio, cada renegociação de dívidas nunca pagas, cada programa novo de modernização industrial tinha uma única justificativa por parte dos governos: impedir o crescimento do desemprego no Nordeste, fixar o homem na Zona da Mata.
O que se vê hoje, com mais clareza do que em qualquer outra época, é que não restou nada, absolutamente nada, desses bilhões torrados ao longo de décadas nessas fazendas e usinas.
Esses senhores coloniais acumularam fortunas pessoais de Primeiro Mundo e tiveram dinheiro suficiente para financiar a aventura presidencial de Collor.
O que deixam para a nação são milhões de metros quadrados de escombros e um exército de bóias-frias sem teto e sem terra.

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