São Paulo, segunda-feira, 29 de maio de 1995
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Os chorões

GILBERTO DIMENSTEIN

BRASÍLIA - É uma antiga encenação praticada por grupos empresariais. Quando estão em dificuldades e precisam de ajuda do governo, usam como pretexto a crise social -e aí, fazem barulho, usando seus porta-vozes formais e informais, seus lobbies dentro e fora do Congresso.
Um dos grupos mais chorões são os usineiros, habituados a assaltar dinheiro público. Costumam alardear os perigos do desemprego, caso não recebam uma ajudazinha oficial.
Escrevi esses dois parágrafos acima para introduzir reportagem publicada ontem na Folha, do repórter Ari Cipola. Ele informa que em Alagoas e Pernambuco usineiros e fazendeiros destruíram 90 mil casas de trabalhadores.
Motivo: a residência poderia caracterizar vínculo empregatício. Isso daria ao trabalhador garantias previdenciárias, garantidas pela Constituição de 1988, que equiparou o empregado rural e urbano.
Outra categoria de notórios chorões é dos agricultores que, numa hábil chantagem, tirou na semana passada R$ 900 bilhões em subsídios dos cofres públicos -a chantagem dos petroleiros, convenhamos, é muitíssimo mais barata.
Agora, é a choradeira dos juros altos: lideranças empresariais querem mandar para o espaço o esforço de combate à inflação. Razão: proteger seus lucros. E também, claro, mostram como são ``sensíveis" à miséria.
Engraçado como sofrem de amnésia sensitiva: não costumam ter a mesma compaixão quando arrocham-se salários em nome da estabilidade. Ao contrário: seus escribas descarregam números e argumentos sobre a dificuldade de crescer, distribuir renda e combater a inflação.
O trabalhador que não for tonto deve desconfiar da histeria catastrofista e de qualquer proposta que signifique aumento dos preços -ele é quem vai pagar a conta. Até porque retarda a distribuição de renda e o crescimento econômico.
PS - A propósito, a Folha publicou ontem didática reportagem de Carlos Alberto Sardenberg sobre juros, capaz de reduzir a taxa de histeria. Ali se informa que, na pior das hipóteses, a economia vai crescer 4% este ano, apesar de todo o aperto monetário.

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