São Paulo, quinta-feira, 1 de junho de 1995
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Arida pede demissão do BC; Gustavo Loyola vai assumir

DA SUCURSAL DE BRASÍLIA

O economista Pérsio Arida, 43, um dos pais do Plano Real, anunciou ontem sua demissão do cargo de presidente do Banco Central.
Arida, que ocupava o cargo desde o início do atual governo, alegou ``motivos estritamente pessoais" para justificar sua decisão.
O porta-voz da Presidência da República, embaixador Sérgio Amaral, anunciou que Arida será substituído por Gustavo Loyola, que já foi presidente do BC. Amaral disse também que não ocorrerão mudanças na política econômica do governo.
A manutenção da política econômica do governo foi reforçada pelo ministro Pedro Malan (Fazenda), ao comentar a saída de Arida. ``Não haverá nenhuma mudança nos rumos do Plano Real", disse. O ministro descartou mudanças nas diretorias do BC.
Arida vinha sendo criticado por empresários e parlamentares devido aos juros praticadas pelo BC.
Em março último, sofreu desgaste quando mudou a política cambial e provocou tumulto no mercado financeiro.
Ele também colecionou atritos com o governador de São Paulo, Mário Covas (PSDB), desde que o BC assumiu a administração do Banespa com a disposição de privatizar a instituição. Amaral negou que estas tenham sido as razões da saída.
Arida disse que nenhum destes problemas pode ser apontado como o motivo de seu pedido de demissão. Não revelou, porém, qual seria o motivo. ``Decisões pessoais não são motivo de curiosidade pública", disse.
O futuro presidente do BC, Gustavo Loyola, presidiu a instituição durante o governo Itamar Franco. Loyola já havia sido chamado por Arida para o cargo de vice-presidente do BC.
A demissão de Arida já era comentada pelo mercado financeiro no dia de ontem. A confirmação oficial, pelo Palácio do Planalto e pelo próprio Arida, só aconteceu por volta das 18h.
Arida confirmou sua saída do governo durante entrevista coletiva no Ministério da Fazenda, convocada para anunciar as decisões tomadas pela reunião de ontem do Conselho Monetário Nacional.
Sorridente, Arida anunciou a decisão de reduzir os recolhimentos compulsórios de recursos bancários ao BC antes de tocar no assunto de sua demissão, o que só aconteceu por insistência dos jornalistas.
Naquele momento, o líder do governo no Congresso, Germano Rigotto (PMDB-RS), e a assessoria do Palácio do Planalto já confirmavam a demissão.
``Bom, eu queria deixar isso para o final, mas vamos lá", disse Arida. ``Depois de um longo processo de reflexão pessoal, decidi, em uma decisão estritamente pessoal -pessoal mesmo-, pedir o meu afastamento da presidência do BC", anunciou.
Antes de ser perguntado, Arida disse que sua saída não ocorreu devido a divergências dentro do governo, insatisfação com medidas tomadas ou em estudo ou pressões políticas -``tudo aquilo que uma fértil imaginação pode criar".
Enquanto falava, Arida foi interrompido por Malan e Serra. Ambos elogiaram a atuação de Arida no BC e no Plano Real.
Perguntado sobre os desgastes sofridos devido ao controle dos bancos estaduais, Arida disse que ``em hipótese nenhuma" os cinco bancos estaduais sob intervenção do BC voltarão a ser comandados pelos Estados controladores.
Sérgio Amaral negou que Arida tenha deixado a equipe econômica por divergências com a condução do Plano Real. ``Ele está saindo num momento em que o plano está indo muito bem", disse.
Amaral disse que Arida vinha conversando com FHC sobre a saída ``há algumas semanas". Não soube dizer desde quando. Acrescentou que Arida poderá continuar participando da equipe econômica, mas não disse em que função. Arida disse que sua colaboração com a equipe será ``informal".

LEIA MAIS
sobre a saída de Arida às págs. 1-5 a 1-7

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