São Paulo, quinta-feira, 1 de junho de 1995
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Covas poderá romper com Pedro Malan

CARLOS MAGNO DE NARDI
CLÓVIS ROSSI

CARLOS MAGNO DE NARDI; CLÓVIS ROSSI
DA REPORTAGEM LOCAL

O governador de São Paulo, Mário Covas (PSDB), está às portas do rompimento não com o governo federal, mas com a fatia da equipe econômica comandada pelo ministro da Fazenda, Pedro Malan.
A irritação de Covas vem crescendo desde o início do governo, há cinco meses, mas atingiu o auge na semana passada, com o episódio envolvendo José Maria Monteiro, seu amigo pessoal há 30 anos.
Reflexo desse estado de espírito é a declaração de Covas à Folha, anteontem: ``Não tenho problema algum com Fernando Henrique Cardoso, mas não posso afirmar o mesmo sobre a equipe econômica".
O caso envolvendo Monteiro foi apenas a gota d'água. Ele é auditor-fiscal do Tesouro Nacional, por concurso, há 30 anos. Por isso, foi sondado por Fernando Henrique para trabalhar na área tributária desde o tempo em que o hoje presidente era ministro da Fazenda.
Depois da vitória eleitoral, FHC ficou de indicar Monteiro para a Superintendência da Receita Federal em São Paulo.
Mas pediu, por intermédio de amigos comuns, que fosse Covas o padrinho da indicação.
Covas aceitou, embora achasse que o currículo do amigo dispensava apadrinhamento.
Além disso, o governador já estava ressabiado com o fato de que uma indicação sua tivesse sido desconsiderada. Era a de Sampaio Dória para a presidência da Telesp, a estatal de telefonia de São Paulo.
FHC teve que atender uma indicação de seu antecessor, Itamar Franco, que gostaria de ver no cargo seu ministro das Comunicações, Djalma Moraes.
No episódio José Maria Monteiro, no entanto, as circunstâncias foram politicamente mais complicadas.
Trabalhavam por Monteiro o ministro das Comunicações, Sérgio Motta, o do Planejamento, José Serra, e o líder do PSDB na Câmara, José Aníbal (SP).
Nem assim evitaram o veto imposto pelo secretário da Receita, Everardo Maciel, parente distante do vice-presidente Marco Maciel.
O secretário da Receita chegou a ameaçar demitir-se se Monteiro fosse nomeado. Aí é que entra Pedro Malan. Ele também insinuou que deixaria o cargo se Everardo Maciel saísse.
O impasse levou a uma outra indicação para a Receita em São Paulo, comunicada na semana passada a Covas, em telefonema dado por Malan.
Malan alegou que não poderia nomear Monteiro sob pena de ter que atender todos os demais governadores no preenchimento das delegacias da Receita nos Estados.
Como Covas só indicara seu amigo a pedido de FHC, ficou ainda mais indignado com Malan.
O episódio somou-se a vários outros pontos de atrito, que levaram Covas a desabafar, há dias: ``Posso ter ainda amigos no governo federal, mas companheiros não tenho mais".

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