São Paulo, quinta-feira, 1 de junho de 1995
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Mortos em deslizamento na Bahia chegam a 26

LUIZ FRANCISCO e TEREZA RANGEL

LUIZ FRANCISCO; TEREZA RANGEL
DA AGÊNCIA FOLHA, EM SALVADOR

Mais 14 corpos foram encontrados ontem em São Gonçalo do Retiro (periferia de Salvador), elevando para 26 o número oficial de vítimas fatais em consequência de um deslizamento de terra provocado pela chuva.
Até as 17h, o Corpo de Bombeiros havia encontrado seis corpos. A partir das 18h, mais oito corpos foram resgatados.
Segundo os bombeiros, entre 30 e 40 pessoas ainda estão soterradas nos escombros. As informações do Corpo de Bombeiros são baseadas em depoimentos dos sobreviventes e moradores do bairro.
O deslizamento aconteceu por volta das 13h30 de anteontem e soterrou cerca de 40 casas, segundo sobreviventes, moradores do bairro e Polícia Militar. Anteontem, 21 pessoas foram resgatadas com vida.
O coronel Aimar Aguiar, do Corpo de Bombeiros, que está comandando as operações de resgate, disse que não acredita que novos sobreviventes possam ser encontrados nos escombros. ``A área está muito compactada e não existe mais oxigênio", disse.
Ontem à noite, o coordenador da Defesa Civil, Francisco Costa Júnior, disse que cerca de seis casas devem ser demolidas para facilitar a entrada de máquinas na área atingida pelo deslizamento, de cerca de 1.500 metros quadrados.
``Vamos utilizar tratores e caçambas para facilitar os trabalhos de resgate", disse Francisco Costa Junior. Até o começo da tarde de ontem, os bombeiros estavam utilizando apenas pás e enxadas para remover a terra.
O volume de terra que deslizou atinge 3.750 metros cúbicos, suficientes para cobrir a rua Rio Branco até uma altura de 2,5 metros, em média (leia quadro ao lado).
O acidente foi provocado pelas chuvas que atingem Salvador há uma semana (leia texto abaixo). Segundo o Instituto Nacional de Meteorologia, as chuvas devem diminuir de hoje a domingo.
O deslizamento foi causado por infiltração no barranco, segundo técnicos da prefeitura. As cerca de 40 casas soterradas, algumas de alvenaria, foram construídas próximas ao barranco, que tem cerca de 130 metros de altura.
Uma pedreira desativada há mais de dez anos contribuía para impedir o deslizamento. ``As pedras não conseguiram evitar a infiltração e conter a terra", disse o coronel Aimar Aguiar.
Os sobreviventes e outras pessoas do bairro que moram em locais considerados de risco estão sendo transferidos pela Prefeitura de Salvador para escolas municipais e estaduais, creches, abrigos noturnos e um galpão da Rede Ferroviária Federal.
Os feridos foram encaminhados para o HGE (Hospital Geral do Estado), Hospital Roberto Santos e Hospital Ernesto Simões.
Ontem, 200 pessoas trabalhavam na área. No começo da tarde, os serviços de remoção dos escombros foram interrompidos por causa das fortes chuvas. Os trabalhos recomeçaram às 14h30.
Segundo a prefeita Lídice da Mata (PSDB), técnicos da Codesal tinham condenado a área um dia antes de acontecer o deslizamento.
``Os funcionários sugeriram aos moradores a transferência para casas de amigos, familiares, escolas e creches", disse a prefeita.
``Nenhum funcionário da Codesal esteve aqui``, disse o marceneiro José Santos Araújo, 32, morador do local.
A prefeita Lídice da Mata decretou estado de calamidade pública em Salvador. ``Temos um funcionário em Brasília tentando liberar verbas para obras emergenciais", disse a prefeita.

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