São Paulo, quinta-feira, 1 de junho de 1995
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Mentalidade estatal

O anúncio oficial da Sabesp de que as tarifas de água no Estado de São Paulo serão aumentadas no mês que vem constitui um exemplo típico da mentalidade estatal aplicada à administração -prática cujos resultados desastrosos a história recente do Brasil cansou de revelar.
Segundo comunicado da empresa, a majoração das tarifas deve-se ao aumento do custo de mão-de-obra e de materiais de tratamento. Como se essa relação fosse direta e inexorável. Como se não houvesse mais nada a fazer. Mas há.
O nível de eficiência geral das estatais brasileiras lamentavelmente dispensa maiores comentários. O próprio governo paulista reiteradas vezes criticou as práticas de gestão do seu antecessor. Está então para ser provado que a Sabesp não apresenta uma margem gigantesca para reduzir seus gastos, aumentar sua produtividade e assim fazer frente a custos maiores sem recorrer à elevação de tarifas.
É verdade que o anúncio divulgado pela estatal faz uma lacônica menção a ``esforços para reduzir os seus custos", mas a falta de qualquer ênfase ou detalhe quanto a esse ponto e, principalmente, o próprio aumento das tarifas sugerem que a dimensão desses ``esforços" deixa muito a desejar.
O setor privado brasileiro, premido pelas circunstâncias, atravessou uma verdadeira revolução nos últimos anos, adotando programas de modernização que ampliaram fortemente a eficiência. Nada parecido aconteceu no setor público. Protegidas pelo manto do monopólio, muitas empresas estatais lamentavelmente preservaram suas tradições de obesidade, de desperdício e de serviços insatisfatórios.
Também para elas, contudo, a situação agora mudou. A crônica crise financeira do setor público, a perspectiva de quebra de monopólios no país -que acena com uma mais do que bem-vinda concorrência-, o imperativo da racionalização do Estado, todos apontam para a necessidade de uma profunda mudança de atitude e de mentalidade nas estatais. Só falta agora que elas percebam isso.

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