São Paulo, quinta-feira, 1 de junho de 1995
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A saída do pai

CLÓVIS ROSSI

SÃO PAULO - O economista Luiz Paulo Rosemberg dá, em uma só frase, a dimensão da saída de Pérsio Arida da presidência do BC (Banco Central): ``Sai o pai do Plano Real, o que me deixa grilado".
O irônico é que o pai do plano deixa a mira dos holofotes quando o plano vai muito bem, do ponto de vista do controle da inflação, que é, afinal, o seu objetivo central.
O que demonstra que as tensões na equipe econômica permanecem elevadas, embora escamoteadas pelos bons modos de seus membros. Tão escamoteadas que a Folha ouviu ontem duas versões absolutamente opostas sobre a natureza das divergências entre Pérsio Arida e o ministro da Fazenda, Pedro Malan.
Na área política, dizia-se que Pérsio gostaria de ter feito, em março, uma desvalorização mais definitiva do real, em vez de adotar as bandas. Agora, estaria predisposto a mexer de novo no câmbio, aproximando mais o real do dólar.
Na questão dos juros, Pérsio já se convencera, sempre segundo a versão política, de que o aperto monetário cumprira o seu papel e chegara a hora de afrouxar um pouco, sem sobressaltos, como, de resto, é a característica da política econômica vigente desde que FHC se tornou ministro da Fazenda.
Já seu superior hierárquico, Pedro Malan, é apontado como o mais ardente defensor da ortodoxia pura e dura, seja no câmbio, seja nos juros.
Mas, no meio empresarial, apostava-se que Gustavo Loyola, o novo presidente do BC, será mais flexível tanto nos juros como no câmbio, por se tratar de um mero operador e não de um formulador.
O formulador passa a ser exclusivamente Malan, apoiando-se em Gustavo Franco. Por essa versão, que pode ser mais expressão de desejos do que análise fria, Malan é que seria o flexível, e Pérsio, o duro.
Seja qual for a visão correta, a saída de Pérsio não elimina todas as tensões. A maior delas ainda é, por mais que digam o contrário, entre José Serra, o ministro do Planejamento, e Malan.

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