São Paulo, quinta-feira, 1 de junho de 1995 |
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Os alertas de Arida
GILBERTO DIMENSTEIN BRASÍLIA - Pérsio Arida teve uma conversa franca com esta coluna na quarta-feira passada -não vazou qualquer insinuação sobre a decisão de ir embora. Como ele deixou o Banco Central, sinto-me desobrigado a manter sigilo da conversa, por conter reflexões e alertas valiosos de um notável analista e homem público de rara qualidade.Ele se mostrava preocupado com o gigantesco complô que se formava a favor da inflação -e daí ser um dos alvos preferidos de empresários e seus lobistas dentro e fora do Congresso. ``Você conhece o Congresso melhor do que eu, sabe como os empresários têm força", disse. Referia-se à pressão para que se abaixassem os juros, encampada por centenas de políticos, muitos deles empresários ou eleitos pelo poder econômico. ``O Simonsen costuma dizer que empresário não protesta contra inflação, mas contra juros", comentou. Pérsio imaginava que as pressões, se bem-sucedidas, explodiriam o plano de combate à inflação. A consequência seria o governo perder a capacidade de aprovar as reformas constitucionais. Viveríamos entre surtos de aumentos de preços e recessão. Resultado: instabilidade institucional. Segundo ele, fortunas foram montadas graças à inflação, com gente preferindo especular a produzir -nesse grupo de beneficiados estariam ``consultores" que atraem clientes devido ao permanente caos da economia. Mostrava-se convencido de que a transição seria dura, mas, em breve, caso enfrentadas as pressões, logo o Brasil entraria numa fase de crescimento sólido -o que seria, na sua opinião, sinônimo de justiça social. Pérsio não comentou na conversa, mas esta coluna tem condições de afirmar que ele ficou abalado com as críticas à sua honra, provocadas pelo episódio da desvalorização do real -até aqui, diga-se, nada apareceu que o vinculasse a vazamento de informações. Desse momento em diante, seu desencanto com o poder, somado a desentendimentos dentro da equipe e divergência com o Ministério da Fazenda, tomou forma -até porque não tem nenhum projeto político, que serviria como anestésico aos lobbies e pancadarias. PS - Reconhecimento: ele saiu porque quis, o que exibe raro gesto de desprendimento. Texto Anterior: A saída do pai Próximo Texto: O Brasil lá fora Índice |
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