São Paulo, quinta-feira, 1 de junho de 1995
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O Brasil lá fora

LUIZ CAVERSAN

RIO DE JANEIRO - Pouca gente lembra, mas o agora ministro Pelé já esteve investido de altas responsabilidades junto ao governo federal.
No governo Sarney, Pelé foi investido da autoridade de ``embaixador do turismo brasileiro".
O ex-jogador passou a fazer, em suas muitas viagens pelo exterior, propaganda constante e insistente sobre os atrativos turísticos do país. Como contrapartida tinha, apenas, as passagens de avião e um passaporte diplomático.
Foi o que bastou para que surgissem inúmeras críticas tanto à iniciativa quanto ao próprio Pelé, que estaria se valendo de regalias para suas viagens.
O tamanho dessa bobagem pôde ser constatado numa das viagens de Pelé, que eu acompanhei. Foi à Itália, para onde a Embratur pretendia ``vender" pacotes de viagens ao Nordeste brasileiro.
Numa tarde do escaldante verão romano, nada menos que duas dúzias de jornalistas italianos foram ouvir o ``rei do futebol" em uma entrevista coletiva.
Claro que os italianos queriam mais era falar de futebol. Mas foram ``obrigados" a conhecer, via fotos, filmes e pelas palavras do próprio Pelé, as belezas das praias brasileiras e a hospitalidade dos nordestinos.
No dia seguinte, o resultado estava em todos os jornais e o que se destacava era isso mesmo, o Brasil como destino turístico, tendo Pelé como ``garoto propaganda".
Essas lembranças vêm a propósito de intervenção do publicitário Nizan Guanaes, anteontem no Senado, na qual ele disse que os recursos destinados oficialmente para difundir a imagem do país no exterior não dariam ``nem para espalhar boato".
Grande verdade, mas não é tudo. À ausência crônica de verbas alia-se a falta de criatividade e de empenho das representações diplomáticas e dos próprios operadores de turismo.
Enquanto a propaganda do Brasil lá fora se resumir a cartazes coloridos e apelos ao ``turismo sexual", a imagem do país continuará sendo aquela que infelizmente existe há anos: samba, mulatas e chacina de menores.

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