São Paulo, sexta-feira, 2 de junho de 1995
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Animais de laboratório

RENATO BRAZ DE ARAUJO

É interessante assinalar qual a primeira idéia que surge quando se fala sobre animais de laboratório. Necessidade? Crueldade? A maioria das pessoas primeiramente lembra de morte após experimentos científicos, esquecendo de questionar o porquê dos mesmos.
A fauna de laboratório compreende animais considerados modelos ideais, graças a suas características anatômicas, fisiológicas, bioquímicas e imunológicas serem semelhantes às do homem.
Assim, temos a cobaia, excelente para investigar o sistema imunológico; o coelho, para pesquisar alergias; o porco, para estudar problemas do fígado; o carneiro, para estudar problemas cardíacos; o cão, para pesquisar problemas pulmonares (beagle); o gato, para o estudo do cérebro; o cavalo, para estudar problemas de sangue e fabricar soros; o tatu, único capaz de adquirir hanseníase; o sapo, na observação das reações musculares; o pombo, para estudar a ação de toxinas; os peixes, em estudos toxicológicos e o chimpanzé, em análises de comportamento.
Do ponto de vista ecológico, há alguns exageros devido à falta de conhecimento científico acerca do assunto. Se não existisse uma fauna de laboratório, doenças, técnicas cirúrgicas e vacinas talvez não fossem descobertas ou então o próprio homem teria de ser testado (e quantos teriam morrido?).
Se, por um lado, milhares de animais são mortos, de outro, avanços na medicina foram fundamentais para estudar procedimentos, como as trocas valvares, por exemplo, aumentando as chances de se salvar vidas humanas.
Ressaltando os benefícios gerados por pesquisas que utilizam animais de laboratório, cabe mencionar o Instituto Vital Brasil, que sacrifica mensalmente 17 mil camundongos, 80 cobaias e 60 coelhos, produzindo a partir desses organismos 60 mil doses de soro antiofídico, 120 mil doses de vacina anti-rábica e cerca de 5 milhões de doses de antitetânica.
Por outro lado, a luta dos ecologistas contra a crueldade em relação a essa fauna é relevante, pois alerta a comunidade científica dos crimes praticados contra esses animais. Dentre as proibições reivindicadas, algumas são dignas de amparo legal, como: testes com cosméticos, tabaco e álcool em animais vivos; testes de xampus, produtos químicos e de limpeza; experimentos armamentistas e, na área da psicologia, o uso de choques elétricos para aprendizagem.
Uma profunda reflexão a respeito da real importância dessa fauna para a ciência e, portanto, para a humanidade, confrontando com o "bem-estar gerado através de produtos e denunciado pelos ecologistas, se faz necessária.
Afinal de contas, será que o preço pago para sustentar tal bem-estar não é alto demais? Será que os fins justificam os meios? A ética responde: nem sempre.

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