São Paulo, sexta-feira, 2 de junho de 1995
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Antidoping é fundamental para o esporte

OSMAR DE OLIVEIRA
ESPECIAL PARA A FOLHA

Recebo com muita satisfação a notícia de que os organizadores da Copa América, disputada em julho, no Uruguai, decidiram usar laboratórios no exterior, após verificar a impossibilidade de montar o aparato necessário para exames antidoping em Montevidéu. As provas antidopagem são uma garantia indispensável para o público e, principalmente, para os jogadores. Abrir mão delas é um retrocesso inadmissível no atual estágio de evolução do esporte.
O Comitê Olímpico Alemão, por exemplo, se surpreendeu ao constatar que, só no ano passado, houve 34 casos de doping envolvendo seus atletas. Na China, o próprio governo tomou a iniciativa de tentar coibir o uso de substâncias proibidas pelas normas esportivas, que, de tão frequente, estava sedimentando má reputação para os atletas chineses.
O Comitê Olímpico Internacional (COI) também tem mostrado rigor cada vez maior com o doping.
No futebol, os últimos dez anos ofereceram uma série de exemplos que provam que esse problema continua bastante presente no esporte. Que o diga Maradona, protagonista do caso mais famoso da Copa de 94.
A Copa América é disputada basicamente pelo mesmo universo de jogadores que a Libertadores da América -só que agrupados em seleções, em lugar de clubes. Pergunte sobre doping a qualquer jogador sul-americano que já tenha disputado jogos pela Libertadores. A resposta é sempre a mesma: após esta ou aquela partida, ficou a convicção de que havia jogadores com comportamento suspeito no time adversário, tantas eram as pistas.
São os jogadores os maiores interessados no combate ao doping -ou, pelo menos, deveriam ser. Além de garantir a lisura da disputa e a igualdade de condições aos times, os exames antidoping são a maior prevenção contra lesão nos jogadores que não se dopam. Explico: as substâncias usadas como estimulantes no futebol moderno sempre implicam alteração no juízo -em especial a anfetamina e a cocaína, as mais comuns.
São diferentes dos esteróides, usados para ganhar massa muscular por praticantes do atletismo, que praticamente não alteram o humor e o comportamento dos usuários. O jogador de futebol dopado fica mais agressivo, perde o medo e a noção de seus limites.
Imagine o que isso significa em uma dividida de bola no chão entre um centroavante dopado e um goleiro não dopado. O comportamento normal é o atacante partir para a disputa, mas se preparar para saltar o goleiro. Esse é um procedimento adotado pelo mais experiente profissional e também pelo mais iniciante dos juniores. Um jogador dopado tende a ter certeza de que vai ganhar a parada. E não evita o choque.
Se eu fosse jogador, insistiria, brigaria, lutaria pela realização regular de exames antidoping. Eles são mais importantes do que qualquer seguro em matéria de proteção à integridade do atleta.

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