São Paulo, sexta-feira, 2 de junho de 1995
Texto Anterior | Próximo Texto | Índice

'Salada Russa' satiriza contraste Leste-Oeste

JOSÉ GERALDO COUTO
DA REPORTAGEM LOCAL

Filme: Salada Russa em Paris
Produção: França/Rússia, 1993
Direção: Youri Mamine
Elenco: Agnès Soral, Serguei Dontsov
Onde: no Espaço Banco Nacional de Cinema, sala 3

No conto ``O Outro Céu", Julio Cortázar inventa uma passagem fantástica entre Buenos Aires e Paris. Este ``Salada Russa" parte de um argumento semelhante: uma janela escondida num cortiço de São Petersburgo (Rússia) abre para o centro da capital francesa.
Trabalhando em co-produção com os franceses, o diretor russo Youri Mamine transformou esse ponto de partida fantasioso numa comédia irregular, mas irresistível, que mistura sátira política, crítica de costumes e romance.
A tal janela, descoberta por acaso, permite que um professor de música rebelde (Serguei Dontsov) e um grupo de conhecidos passem uns dias em Paris. É uma verdadeira invasão dos bárbaros, ao mesmo tempo repelidos e fascinados pelo luxo/lixo do Primeiro Mundo capitalista.
O choque cultural resultante, agravado pelo fato de nenhum desses turistas acidentais falar uma palavra de francês, dá origem a piadas arrasadoras, a despeito das falhas de continuidade e do ritmo um tanto trôpego da narração.
Mamine disse que fez um filme em que não há ``uma Paris maravilhosa e uma São Petersburgo apavorante, mas um equilíbrio".
O desequilíbrio é evidente no episódio em que uma ``artista de vanguarda" francesa atravessa a janela ao contrário e, desavisada, cai em São Petersburgo. Sua aventura na Rússia é um pesadelo sem remissão: apanha, é presa, passa frio, fome, solidão.
O filme ironiza as tradicionais desculpas dos russos para seu fracasso. A certa altura, um deles diz: ``Nós contivemos os tártaros durante quatro séculos, o que permitiu que a França se desenvolvesse". E logo em seguida saqueia uma quitanda parisiense.
Para não dizer que Mamine só dirige maus pensamentos a sua terra natal, há uma fantástica turma de garotos dançarinos (recrutados entre alunos de uma escola de teatro), cuja alegria parece capaz de vencer o atraso, a miséria e a ignorância que ainda pesam sobre aquele grande país do Leste.

Texto Anterior: 'Ruby' fracassa nas paisagens exóticas
Próximo Texto: "Martha" interpreta os sentidos da paixão
Índice


Clique aqui para deixar comentários e sugestões para o ombudsman.


Copyright Empresa Folha da Manhã S/A. Todos os direitos reservados. É proibida a reprodução do conteúdo desta página em qualquer meio de comunicação, eletrônico ou impresso, sem autorização escrita da Folhapress.