São Paulo, sexta-feira, 2 de junho de 1995
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Assalto de estudantes

GILBERTO DIMENSTEIN

BRASÍLIA - Sei que os principais assuntos são a greve dos petroleiros e as repercussões da saída de Pérsio Arida, envolvendo todos brasileiros. Impossível, porém, deixar de comentar hoje um assalto que jovens de classe média planejam em Brasília.
A União Nacional dos Estudantes vai fazer um congresso no Distrito Federal -o tema do ano, claro, é o protesto contra a reforma constitucional. Até aí, tudo bem. O problema está num detalhe: o dinheiro que financia o encontro.
A repórter Cynara Menezes descobriu ontem um lobby articulado pela UNE: enfiaram no orçamento do Distrito Federal uma suplementação de R$ 195 mil para bancar o convescote politizado, patrocinando comida, panfletos, cartazes etc.
Vamos traduzir: com esse dinheiro, seria possível simplesmente dobrar um dos programas sociais mais interessantes do país, elaborado pelo PT. Distribui-se, aqui, um salário mínimo para a família que mantiver o filho na escola.
Com esse dinheiro, o poder público teria condições de dar um mês de bolsa a quase 2.000 famílias -o que ajudaria, por baixo, 10 mil pessoas carentes. Perguntinha: por que eles não tiram dinheiro do próprio bolso, já que são de classe média?
Para mostrar que lobby também é humor, a emenda orçamentária que drena dinheiro à UNE é justificada como incentivo para a ``promoção turística".
Se isso é ser ``progressista", por favor me coloquem no primeiro lugar da lista dos reacionários. Eles se comportam com o mesmo descompromisso de usineiros, ruralistas, fisiológicos ou de lobbies empresariais que estimulam a volta da inflação.
PS - A julgar pelas conversas ontem de bastidores, não são apenas as cúpulas do PT e CUT que se arrependeram de sustentar a greve dos petroleiros, depois de decretada a ilegalidade. Os líderes sindicais da categoria confidenciavam que chutaram uma lata com uma pedra -e o pior é que a cada dia a pedra ia aumentando e eles continuavam chutando lata. Insisto na idéia: CUT e PT devem criar um fundo para manter os salários dos demitidos.

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