São Paulo, domingo, 4 de junho de 1995
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Implantes fazem a cabeça de deputados

CYNARA MENEZES
DA SUCURSAL DE BRASÍLIA

Erramos: 06/06/95
A bancada dos cabelos postiços no Congresso cresce a olhos vistos: com 11 deputados e dois senadores, já é maior que a do PC do B (com dez deputados). Até o líder do governo na Câmara, Luiz Carlos Santos (PMDB-SP), aderiu.
Ao contrário dos ruralistas e outros grupos da Casa, é fácil reconhecer um membro da bancada dos implantados. Esconder um implante é tão difícil quanto disfarçar uma careca.
Na fronte, onde os fios naturais costumam ter sua raiz imperceptível, pequenos tufos brotam a partir de orifícios distribuídos em espaços uniformes -como os cabelos das bonecas infantis.
O implante do líder do governo, aliás, é um dos mais bem-feitos. Ele aproveitou a derradeira mecha de cabelos do alto da cabeça e implantou novos fios dos lados.
``Ficou excepcional", diz o próprio Luiz Carlos Santos, 62. ``Faço tudo o que for preciso para não ficar careca", afirma o vaidoso líder, que já marcou um novo implante e não descarta uma cirurgia plástica no futuro.
O deputado Nelson Marquezelli, 53, com um implante feito há 20 anos e um tanto parecido com o penteado do Mickey Mouse (conclui em uma ponta na testa), dispara: ``Minha família todinha é calva. Só eu tenho cabelo."
Segundo ele, a volta dos cabelos lhe custou, na época, US$ 3 mil, com o implante de 300 tufos de 20 a 25 fios cada. ``Nem me lembro que meu cabelo é implantado. Jogo bola e tudo", diz.
Além de evitar apelidos como ``aeroporto de mosquito" ou ``pouca telha", os implantes são apontados por muitos parlamentares como ``rejuvenescedores".
``Minha mulher diz que eu estou muito mais novo", conta o deputado Aníbal Gomes (PMDB-CE), 41, que começou a perder os primeiros fios aos 32 anos. Já o também deputado Ricardo Heráclio (PMN-PE), 30, viu a calvície chegar aos 27.
Ele pagou US$ 1.500 para implantar 3.000 fios de cabelos retirados à custa de 40 pontos na parte de trás da cabeça. ``Passei 15 dias sem lavar o cabelo, andava de boné, mas peruca eu não ia usar nem amarrado", disse Heráclio.
``Muita gente me pergunta se dói fazer implante. Eu respondo que doía mais era me olhar no espelho", diz o deputado João Pizzolatti (PPR-SC), 33 anos e três implantes.
Alguns implantados não encaram o tema com tanta naturalidade. Um dos dois senadores com implante, Antônio Carlos Valadares (PP-SE), não quis, a princípio, falar do assunto.
``Isto é uma coisa pessoal. Só posso dizer que me sinto bem e não estou arrependido", disse. Depois, acabou explicando ter feito o implante para cobrir um desnível do crânio causado por uma queda, quando criança.
Os deputados Wigberto Tartuce (PP-DF), 48, e Vilson Santini (PTB-PR), 48, que optaram pelo ``interlace" (entrelace de fios naturais sobre a careca), se recusaram a dar entrevistas.
``É ridículo", opinou o deputado Paulo Bernardo (PT-PR), sobre o implante de cabelo dos colegas. Com falhas no cabelo, que caminha célere para a calvície, ele acha ``mais digno" ficar careca.
O megacareca Esperidião Amin (PPR-SC) opina: ``Eu acho o cabelo postiço tão legítimo quanto a careca postiça."
Segundo Amin, o implante de cabelos não é, ao contrário do que parece, um ``must" (o máximo, no sentido de fazer sucesso) no Congresso. ``É um less (menos), isso sim".

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