São Paulo, domingo, 4 de junho de 1995 |
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Fugas ainda são lembradas
AURELIANO BIANCARELLI
Tem os olhos saltados e caminha apoiado num cabo de vassoura. Ainda repete histórias de fugas que ouviu quando menino. ``Os espias ficavam na beira dos rios, vendo os barcos que traziam os capitães-de-mato. Aí os negros corriam para as matas e passavam dias escondidos." A antropóloga Eliane Cantarino, da Universidade Federal Fluminense, diz que o ruído do motor de barco ainda traz lembranças do pânico causado pelos brancos. Para ela, não há mais dúvidas sobre a origem quilombola (escravos refugiados em quilombos) das comunidades do Trombetas. À medida que as expedições de captura subiam o rio, os escravos fugitivos avançavam para o norte. Seguiram pelo rio Campiche, depois pelo Turuna, atravessando 16 cachoeiras e corredeiras. Alguns mocambos foram estabelecidos próximos à Guiana. Viajantes citados por antropólogos e historiadores relatam encontros com os negros do Trombetas no século 19. Só em 1827, duas ``expedições punitivas" com mais de cem homens subiram o rio. O mocambo Cidade Maravilha é o mais conhecido do Alto Trombetas. Ficava acima da 15ª cachoeira e era chefiado por Atanázio. Até as crianças das comunidades sabem as histórias do mulato Atanázio, que foi capturado numa expedição, fugiu e reconstruiu o quilombo. ``Ele descia para as fazendas e libertava mais de 40 escravos", contam os moradores. O tabaco -cultivado pelos negros e apreciado nos mercados do Baixo Amazonas- facilitou os primeiros contatos com os brancos. A partir de 1870, os negros começaram a descer o rio às escondidas, vendendo seus produtos a comerciantes vindos de Óbidos. Terminada a perseguição, as comunidades foram descendo o Trombetas, fixando-se a meio caminho entre Oriximiná e Cachoeira Porteira, ao longo do rio Erepecuru e do lago Erepecu. São essas terras que hoje eles reivindicam. (AB) Texto Anterior: Quilombo recebe terra 150 anos depois Próximo Texto: Ex-quilombos são mais de 500 Índice |
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