São Paulo, domingo, 4 de junho de 1995
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População local mantém estação ecológica

ANDRÉ MUGGIATI
DA AGÊNCIA FOLHA, EM TEFÉ

Uma reserva de preservação ambiental na floresta amazônica, com área equivalente à metade do Estado de Sergipe, é um exemplo de como a população pode integrar-se a um projeto ambientalista. A experiência vem sendo realizada na Estação Ecológica Mamirauá, a 550 km a oeste de Manaus.
A presença de moradores contraria a legislação, mas foi a alternativa que os responsáveis pela reserva encontraram para contornar a inexistência de fiscais do governo.
O Ibama (Instituto Brasileiro do Meio Ambiente), principal responsável pela fiscalização deste tipo de área, possui apenas 13 fiscais para reservas no Estado. Apenas 28% das áreas de preservação tem alguma fiscalização no Amazonas.
Mamirauá tem 1,2 milhão de hectares, na confluência dos rios Japurá e Solimões. A experiência científica abrange 200 mil ha.
O objetivo é preservar uma região de várzea, que permanece alagada durante seis meses, abrigando espécies em extinção, como o peixe-boi, o jacaré-açu e o mutum-de-crista, uma ave local.
Algumas espécies só existem lá, como o macaco uacari-branco e o macaco-de-cheiro da várzea.
O idealizador do projeto, o primatólogo (especialista em macacos) Márcio Ayres, 41, criou um sistema que estabelece parcerias entre cientistas, populações nativas, órgãos estatais e ONGs (organizações não-governamentais).
O projeto prevê a implantação de programas de saúde e educação. Em contrapartida, os moradores da área ajudam a vigiar a reserva contra invasões. São considerados invasores os barcos de pesca e os cortadores de madeira que não fazem parte das comunidades locais.
Os lagos que compõem a reserva foram divididos em três tipos: de reprodução (onde é proibido pescar), de manutenção (onde é permitida pesca de subsistência) e de exploração (pesca para comercialização). A pesca só é permitida aos moradores, mas sem redes.
``Pela lei, a população não pode pescar, mas nós toleramos", diz o biólogo Helder Queiroz.
``Após a proibição, a quantidade de peixe nos lagos aumentou muito", festeja Horácio Pereira, 30, morador da região.

* Colaborou a Agencia Folha em Belém.

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