São Paulo, domingo, 4 de junho de 1995
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Notas bem brasileiras

JANIO DE FREITAS

O sociólogo-presidente foi um dos formuladores da teoria da dependência. O presidente-sociólogo pratica a dependência.
O telefonema de Fernando Henrique Cardoso ao presidente Bill Clinton, para comunicar que já assinou a compra dos equipamentos da americana Raytheon para o projeto Sivam, põe a nu, de uma vez por todas, que o governo brasileiro não tomou uma decisão: praticou um ato de submissão. Fosse apenas uma concorrência normal em país soberano, não haveria satisfação a dar a um governo estrangeiro.
Foi apropriada a superioridade implícita na informação do porta-voz da Casa Branca a jornalistas americanos: ``Esse contrato dará emprego a 20 mil americanos até o ano 2002". Se der a 10% disso para brasileiros, terá sido muito. Mas o governo americano é que se preocupa com coisas como desemprego.
Lá e cá
O ``forte aumento" de preço de serviços telefônicos, pretendido pelo ministro Sérgio Motta, tem para o governo o inconveniente de elevar, com o maior faturamento das empresas a serem privatizadas, o seu valor de venda. Mas, pensando bem, este inconveniente não se aplica ao programa brasileiro de privatização, que melhor se chamaria programa de doações. Sobra, então, o aspecto conveniente: é mais um serviço que o ministro presta aos futuros donos das empresas, reduzindo-lhes o ônus do ``forte aumento" de preços que as privatizações provocaram pelo mundo afora.
À falta de argumento respeitável, Sérgio Motta recorre ao embuste: ``No Brasil as tarifas estão muito baixas. Aqui, a média das contas é de US$ 11, enquanto nos Estados Unidos é de US$ 29".
Ele sabe muito bem que o preço é proporcional à quantidade do uso. Assim como sabe que, nos Estados Unidos e na Europa, o preço de aquisição de um telefone é só o custo da instalação, mas no Brasil tem o peso de um investimento. E a qualidade dos serviços de lá e de cá é comparável? E o poder aquisitivo dos usuários é o mesmo? E os custos operacionais, considerada a diferença de salários, são idênticos lá e cá?
A fazer comparações, deve-se começar por fazê-la entre os ministros da área de comunicações lá fora e aqui.
Poder real
Se considerada a força política pelos postos ocupados no governo, o próspero Mailson da Nóbrega, aquele da inflação de 84% ao mês, vale por um PMDB inteiro: além do novo presidente do Banco Central, Gustavo Loyola, também a ministra da Indústria e Comércio era companheira de Mailson na consultoria MCM.
Em matéria de informação sobre decisões governamentais, a MCM já ganhava até do PFL. Agora ganha até do Planalto. Ganhar, aliás, é um verbo perfeito para a MCM.

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