São Paulo, domingo, 4 de junho de 1995
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Repetência cresce e matrículas diminuem

FERNANDO ROSSETTI
DA REPORTAGEM LOCAL

A rede municipal de educação de São Paulo vive hoje o que poderia ser chamado de ``caos pedagógico" -nenhum professor ou diretor sabe dizer exatamente qual a linha de ensino que deve seguir.
A gestão petista (1989-92) realizou profundas transformações na rede: instituiu os ciclos -em que os alunos só podem repetir após o 3º, 6º e 8º anos do primeiro grau-, estabeleceu novas formas de avaliação dos estudantes e de organização das escolas.
O secretário municipal de Educação, Sólon Borges dos Reis, buscou apoio do Conselho Estadual de Educação para tentar anular algumas dessas mudanças, fixadas pela gestão petista através do Regimento Único das Escolas.
Pediu para reformar o regimento -incluindo os ciclos, a avaliação, o poder dos Conselhos de Escola, entre outras coisas.
A resposta do conselho estadual, em dezembro: ``O modelo que está sendo proposto pode ser igualmente competente (...) desde que se acrescente fundamentos pedagógicos consistentes."
Com Maluf houve também um achatamento salarial dos professores. Eles chegaram a receber duas vezes o piso do Estado e hoje ganham 41% a mais (R$ 282 por mês por 20 horas semanais).
O ritmo das reformas nas 723 escolas da rede caiu pela metade (veja quadro). O dinheiro aplicado até maio deste ano na Secretaria de Educação corresponde ao que a prefeitura gastou em 1994 com os túneis do Ibirapuera e do rio Pinheiros (R$ 190 milhões).
Somando o ``caos pedagógico" e a diminuição de investimentos e salários, o resultado é um crescimento na reprovação de alunos (que chegou a 20% do 1º grau em 93) e uma diminuição do número de estudantes matriculados (de 796 mil em 92 para 777 mil em 94).
E o pior: a falta de professores atingiu níveis alarmantes -principalmente no ano passado.
A gestão malufista tem seus argumentos: diz que está dando uma autonomia inusitada às escolas, que programa 206 obras este ano e que o problema da falta de professores é, principalmente, burocrático-legal (leia texto ao lado).
``Geléia geral"
Argumentos, estes, que são rebatidos por quem atua ou atuou na área. ``Essa falta de projeto educacional da administração faz com que os currículos virem uma geléia geral", afirma um diretor de escola, que teme ser identificado.
``Está havendo uma situação caótica em um quadro desfavorável de finanças", diz o presidente da Comissão de Educação da Câmara, Maurício Faria (PT).
Para o ex-secretário da Educação (1990-92), Mário Sérgio Cortella, 41, ``é errado uma política que diz que não há projeto educacional e deixa isso para a escola".
``Autonomia é diferente de descontrole", acrescenta.
Na gestão petista cada uma das 11 delegacias de ensino (que eram chamadas núcleos de ação educativa -NAEs) tinha uma equipe de pessoas para trabalhar a formação dos professores e elaborar, com eles, os projetos das escolas.
Hoje, a formação é centralizada na Divisão de Orientação Técnica e uma pessoa -o supervisor da delegacia- cuida das escolas.
``O projeto sobre o qual mais nos chamaram no Brasil para dar palestras é o do grupo de formação dos NAEs", afirma Cortella.
``Um dos primeiros atos da administração foi desmontar essas equipes", diz a professora aposentada e ex-coordenadora de NAE Olga Kalil Figueiredo, 50. ``As delegacias voltaram a ter um caráter mais fiscalizador."
Segundo a mãe de alunos e participante do Movimento Ideamos, Giulia Pierro, 46, ``antes, a gente se sentia mais animada de batalhar para resolver os problemas. Havia falhas, claro, mas a gente via que a coisa estava bem encaminhada. Aí tivemos de entrar em um esquema de pressão e denúncia".

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