São Paulo, domingo, 4 de junho de 1995
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Risco de déficit comercial persiste, dizem economistas

FIDEO MIYA
DA REPORTAGEM LOCAL

O saldo positivo de US$ 2,4 bilhões registrado no movimento de câmbio no mês passado, o maior desde o início do Plano Real e o primeiro dos últimos sete meses, não afasta a ameaça de um déficit na balança das exportações e importações do país.
A perspectiva de um déficit comercial (importações maiores que exportações) assusta, principalmente após a crise do México, porque isso pode provocar uma retração dos investidores internacionais, obrigando o governo a exaurir suas reservas em moeda forte para pagar as contas externas.
Este é o risco apontado por vários economistas, entre eles os ex-presidentes do Banco Central Carlos Geraldo Langoni e Affonso Celso Pastore.
Langoni estima que, na melhor das hipóteses, a balança comercial fechará o ano entre um saldo zero e um superávit de US$ 1 bilhão.
O superávit cambial de maio foi obtido com um saldo positivo de US$ 1,5 bilhão nas operações de vendas de dólares pelos exportadores e de compras pelos importadores.
Outros US$ 905 milhões foram obtidos nas transações financeiras, com entradas de US$ 4,1 bilhões e saídas de US$ 3,2 bilhões.
Desde janeiro deste ano, as vendas de dólares pelos exportadores vêm superando as compras dos importadores e acumulam um saldo positivo de US$ 3,9 bilhões nos últimos cinco meses.
A expectativa do governo e de muitos analistas do mercado financeiro é de que em algum momento no futuro esse superávit cambial irá se traduzir em saldo positivo na balança comercial.
Pastore, porém, afirma que a possibilidade de se prever os resultados da balança comercial a partir dos contratos de câmbio fechados pelos exportadores e importadores ``é absolutamente nula".
Na mesma linha de raciocínio, Langoni insiste que há uma ``ilusão cambial" nos superávits comerciais do mercado de câmbio, que mostram apenas o fluxo financeiro e não o movimento real das exportações e importações.
O raciocínio dos dois economistas se baseia no fato de que os exportadores, por meio dos ACCs (Adiantamentos de Contratos de Câmbio) vendem antecipadamente os dólares de mercadorias que devem ser embarcadas em prazos que vão de 90 a 180 dias.
Com os importadores, ocorre exatamente o contrário: os dólares são comprados para pagar mercadorias que já entraram no país.

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