São Paulo, domingo, 4 de junho de 1995
Texto Anterior | Próximo Texto | Índice

Antropologia explica fracasso de empresas

DA REPORTAGEM LOCAL

A importação de processos de qualidade de outros países está fadada ao fracasso, porque não leva em conta as diferenças culturais entre as nações.
A opinião é do antropólogo Jean-François Chanlat, professor da École des Hautes Études Commerciales de Montreal (Canadá).
Ele participou de debate sobre o tema ``Antropologia nas empresas: pressupostos da qualidade na administração", na última segunda-feira, em mais um evento da série ``A Busca da Qualidade Total", promovida pela Folha.
Participaram ainda Guilhermo Raul Ruben, professor do Departamento de Antropologia da Universidade Estadual de Campinas (Unicamp), e Gilson Schwartz, articulista da Folha e professor do Instituto de Economia da Unicamp, que atuou como mediador.
Para Chanlat, as experiências de implantação de processos de qualidade nas empresas em geral não dão certo, porque não são vistas de um ponto de vista sociológico.
Ele argumentou que, quando uma empresa do Brasil importa um modelo de qualidade dos EUA, terá problemas, pois a cultura dos trabalhadores dos dois países é bastante diferente.
``A antropologia mostra que o ser humano é muito complexo, a individualidade precisa ser respeitada", disse. Segundo Chanlat, ao implantar sistemas de qualidade padronizados, as empresas se esquecem disso.
``A realidade das empresas confirma que as pessoas fazem coisas diferentes das prescritas, devido à sua individualidade", afirmou.
Para ele, os sistemas padronizados de qualidade não levam em conta a ``dimensão cultural". ``Cada ser humano tem uma forma de pensar e fazer que é sua; é a sua cultura. O mesmo ocorre com cada grupo social, cada organização, cada país", disse.
Em sua opinião, os processos de qualidade devem ser adaptados à ``cultura" de cada trabalhador, grupo, empresa e país. ``Não pode haver um conceito universal de qualidade, válido para todos os países", argumentou.
Concordando com ele, Guilhermo Raul Ruben disse que a Unicamp acompanhou o fracasso de empresas formadas por empresários de diferentes nacionalidades.
``Fracassaram porque cada empresário tinha seu conceito sobre o dia-a-dia da empresa, lucro, trabalho feminino etc.", disse.
Ele acha que a antropologia pode ajudar as empresas na implantação de sistemas de qualidade.
``Mesmo que seja universal, o conceito de qualidade dos japoneses não é o mesmo dos paraguaios, porque passa por marcas culturais diferentes", disse Ruben.
E completou: ``Se os antropólogos são vistos como estudiosos de índios, que os empresários sejam uma nova tribo".
Ao final do debate, Gilson Schwartz lembrou que em uma palestra do ciclo promovido pela Folha um empresário japonês disse não dar qualquer importância ao certificado de qualidade ISO 9000. ``Ele estabelece normas técnicas rígidas, é uma camisa-de-força e queremos um processo de melhoria constante em nossas empresas", disse.

Texto Anterior: Operações com ouro disparam na BM&F
Próximo Texto: Tema amanhã será serviços
Índice


Clique aqui para deixar comentários e sugestões para o ombudsman.


Copyright Empresa Folha da Manhã S/A. Todos os direitos reservados. É proibida a reprodução do conteúdo desta página em qualquer meio de comunicação, eletrônico ou impresso, sem autorização escrita da Folhapress.