São Paulo, domingo, 4 de junho de 1995 |
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Gorbatchov assistiu à manifestação
JAIME SPITZCOVSKY
Não podia oferecer a seu convidado, o presidente da então União Soviética, Mikhail Gorbatchov, a tradicional cerimônia de recepção na praça Tiananmen. Motivo: cerca de 400 mil pessoas ocupavam aquela área para exigir democracia na China. O maior desafio lançado contra o PC chinês desde sua chegada ao poder em 1949 se arrastava havia um mês. Em 15 de abril havia morrido Hu Yaobang, um dos líderes da ala ``liberal" do Partido Comunista chinês e sua morte provocou uma sensação de ``orfandade" entre os estudantes chineses. A 17 de abril, um cartaz na Universidade de Pequim dava o tom de ousadia que começava a tomar conta do movimento estudantil: ``Aqueles que deviam morrer, não morreram. Aqueles que não deviam morrer, morreram". Os estudantes começaram então a se reunir na praça Tiananmen. Os cardápios de reivindicações, no começo, listavam preocupações como melhoria do ensino e falta de verbas para a educação. No plano político, a principal exigência era a reabilitação de Hu Yaobang, que, acusado de ser ``muito liberal", havia sido afastado do cargo de secretário-geral do PC em 1987. Os estudantes queriam também um funeral com honras para o seu líder político. Mas a praça Tiananmen (Paz Celestial) começou a funcionar como um imã atraindo cada vez mais manifestantes. Calcula-se que eles eram 40 mil já a 17 de abril. A lista de reivindicações também engordava e os estudantes passaram a falar em democratização, fim da corrupção e da alta de preços. Universidades entraram em greve a 24 de abril. Surpreendida por um movimento que se alastrava rapidamente, a direção do PC mergulhou em discussões sobre como enfrentar o desafio. O secretário-geral Zhao Ziyang assumia o papel de defensor das negociações, enquanto o primeiro-ministro Li Peng liderava a facção que desejava usar a força. Veio então de Moscou um grupo que jogou mais lenha na fogueira de Tiananmen. Mikhail Gorbatchov desembarcou com a aura de reformista, responsável pela democratização que os soviéticos então desfrutavam mas que os chineses não conheciam. Quando da chegada de Gorbatchov, havia em Tiananmen 400 mil pessoas. A greve de fome foi adotada por mil manifestantes como mais uma arma para pressionar o governo. Deng Xiaoping, o principal dirigente chinês, pendia para o lado da solução de força. Os protestos aumentaram. Houve mobilizações em 35 cidades. Crescia também a confusão entre os líderes estudantis: negociar ou manter o confronto. O governo já tinha sua opção e a 29 de maio as primeiras tropas despontaram nas ruas próximas a Tiananmen. A manifestação a 3 de junho somaria 1 milhão de pessoas. À 1h do dia 4, os tanques avançaram para derrubar barricadas e soldados começaram a disparar. Era o fim de 48 dias que desenharam o maior desafio ao reinado do Partido Comunista chinês. Texto Anterior: Polícia vigia praça Tiananmen Próximo Texto: Inimigos devem buscar soluções de paz Índice |
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