São Paulo, domingo, 4 de junho de 1995
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Bósnia coloca Otan em sua pior crise

ANDRÉ FONTENELLE
DE PARIS

Quatro anos após o desaparecimento do rival Pacto de Varsóvia, a Otan (Organização do Tratado do Atlântico Norte) vive a maior crise de sua história.
Impotente na ex-Iugoslávia, enfrentando oposição da Rússia à sua expansão e minada por escândalos internos, a maior aliança militar do planeta se reúne neste fim-de-semana para discutir a situação na Bósnia-Herzegóvina.
O encontro em Paris inclui os ministros da Defesa de 14 países da Otan e da União Européia.
A única perspectiva concreta do encontro era a proposta franco-britânica de criação de uma ``força de ação rápida" para apoiar as forças de paz da ONU.
Na Bósnia, a Otan cuida da vigilância do espaço aéreo em uma ``zona de exclusão" (ou seja, interditada aos aviões sérvios) decretada pela ONU em abril de 93.
A pedido das Nações Unidas, aviões da Otan podem atacar alvos sérvios na Bósnia. Foi em represália a um desses ataques, nos dias 25 e 26 de maio, que os sérvios da Bósnia tomaram soldados e observadores da ONU como reféns.
O resultado do ataque gerou críticas ao casamento ONU-Otan. Criada para barrar a expansão da então União Soviética, a aliança ocidental se vê impotente para manter a paz sob ordens da ONU.
Para piorar as coisas, a hostilidade russa contribui para a paralisia da Otan na Bósnia. Não agradam à Rússia a presença de tropas da aliança na região e a possível integração de países do antigo bloco comunista à Otan.
Esse temor data do tempo do ex-líder soviético Mikhail Gorbatchov, que impôs inúmeras condições, em 1990, para a admissão da Alemanha reunificada na Otan.
Meses depois, desapareciam o Pacto de Varsóvia e a própria União Soviética. Em outubro de 1991, Tchecoslováquia, Polônia e Hungria pediam `` uma forma de associação" com a Otan.
Para não desagradar os russos, os EUA propuseram ao ex-bloco comunista uma ``parceria pela paz", nome de um programa tímido de cooperação militar.
Um a um, os países da Europa Oriental assinaram o acordo. Após meses de relutância, a Rússia assinou a parceria, em junho passado.
A simples cooperação, no entanto, não satisfaz Polônia, República Tcheca, Eslováquia e Hungria, candidatos à adesão à Otan.
Mas os quatro enfrentam, além da resistência russa, a relutância de parte da própria Otan, quanto à utilidade da expansão.
Criada em 1949, a Otan viveu uma crise séria em 1966, quando o general Charles de Gaulle, então presidente da França, decidiu retirar seu país do sistema de defesa comum, mantendo-o apenas como membro da aliança política.
A organização teve que se mudar às pressas para Bruxelas, onde se instalou em 1967. Hoje, a França volta aos poucos a desempenhar um papel ativo na Otan.

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