São Paulo, domingo, 4 de junho de 1995
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Crise de reféns na Bósnia afeta cidade britânica

The Independent
De Londres

DO "THE INDEPENDENT"

Na apertada sala de estar de sua casa em Wrexham, John e Rose Jones estão assistindo seu filho David, 20, na televisão. É a enésima vez que repassam a fita gravada em vídeo, mas ela não deixa de prender sua atenção. Mesmo agora eles têm dificuldade em compreender o que aconteceu. Aqui, diretamente de um hospital sérvio bósnio para sua casa, estão imagens de seu único filho, um dos 33 reféns dos Reais Fuzileiros Galeses, obrigados a funcionar como escudos humanos contra ataques aéreos da Otan.
E David está rindo como se fosse convidado de um programa de entrevistas, fazendo um pedido especial a sua mãe para que prepare sua comida predileta -leite e hambúrguer- para quando ele tirar licença, prevista para daqui a duas semanas.
Como se a cena já não fosse suficientemente surrealista, o sobrinho de David -Robert, de 2 anos-, sentado diante da televisão, aponta uma pistola de plástico para a tela e grita "Bang, Davie".
Os Reais Fuzileiros Galeses já são tradição na família Jones. Jones, pai, 46 , passou 12 anos no regimento. Suas mãos, seus braços e até sua barriga são cobertos de tatuagens de insígnias.
Os fuzileiros pertencem a Wrexham. Em 1870 o regimento abriu seu principal depósito na cidade, que continuou funcionando como sua base por mais de 100 anos.
Apesar das tatuagens e de uma certa nostalgia, Jones gostaria que seu filho tivesse escolhido uma carreira diferente. "Quando deixei o Exército, em 1980, eu não queria mais saber dele", conta.
"John entrou para o Exército porque queria conhecer o mundo", conta a sra. Jones. "David entrou porque não conseguiu outro emprego. Em Wrexham não há trabalho para rapazes. O casal Jones acha que seu filho já arriscou sua vida o suficiente para um governo que só se mostra indeciso.
"Em nossa opinião, o que o governo deve fazer é simples: tirar nossos garotos de lá o mais rapidamente possível", diz Jones pai.
"Não há coordenação entre a Otan e a ONU e nossos soldados fazem o papel de bobinho entre os dois lados. Não há paz a ser mantida, e a guerra não é nossa. No povoado próximo de Brymbo, Pauline Jones (nenhum parentesco com o primeiro casal) ecoa o mesmo sentimento.
Seu filho caçula, Lee, 19, foi apelidado de "soldadinho da mamãe" por seus irmãos mais velhos. Ele está na Bósnia desde março, em sua primeira missão.
Em abril teve duas semanas de licença, que coincidiram com seu aniversário. Agora é um dos mais jovens dos militares que estão sendo mantidos como reféns.
Pauline se tortura e se conforta com o vídeo de seu filho capturado. Lee, como David, entrou para o Exército porque não conseguiu encontrar outro trabalho.
Ela se queixa de que os políticos criaram uma espécie de esquizofrenia entre os militares britânicos na Bósnia. Anteontem, após o serviço religioso especial realizado para as famílias dos fuzileiros, na igreja da paróquia de St. Giles, em Wrexham, namoradas e pais de soldados capturados choraram e se abraçaram. O sentimento geral era de solidariedade para com seus pedidos de retirada imediata da Bósnia.
Tradução de Clara Allain

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