São Paulo, domingo, 4 de junho de 1995 |
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Só para uma elite Entre conhecer resultados de pesquisas eleitorais e votar sem saber a tendência do eleitorado, o que o leitor preferiria? Com base nos dados publicados, alguns eleitores optam por um candidato com possibilidade de se eleger, independentemente de sua preferência; outros simplesmente apóiam ``o que está na frente" e há quem se compadeça do ``lanterninha". Boa parte das pessoas, entretanto, quer apenas estar a par do nome do político por quem o coração do eleitorado balança num determinado momento. Qualquer que seja o motivo, quem vota tem direito à informação -um direito garantido pela Constituição. E uma pesquisa de intenção de voto é uma informação como outra qualquer. Líderes políticos, estranhamente de todos os partidos, não concordam. E querem ver restrições à divulgação de pesquisas eleitorais incluídas na reforma política que deve ser votada. Alegam que as pesquisas induzem o voto em candidatos melhor colocados. A proposta de emenda, porém, não impede a realização de pesquisas. As enquetes poderiam continuar a ser feitas normalmente, mas os resultados só seriam conhecidos por uma camada privilegiada de cidadãos: aqueles que pudessem pagar por eles e também as pessoas influentes. Partidos políticos e poderosos grupos econômicos continuariam bem informados; o restante da população, não. Além do absurdo de limitar o acesso à informação a alguns poucos, a proposta em cogitação criaria outros problemas. Atualmente as pesquisas divulgadas têm de ser registradas previamente, garantindo a transparência da procedência dos dados e de quem as financia. Uma vez proibida a sua difusão, boatos favorecendo determinados candidatos substituiriam as pesquisas. Na prática, já se encontrou uma forma de driblar esse tipo de restrição. Às vésperas das últimas eleições na França, os jornais nacionais, impedidos de divulgar enquetes, reproduziram resultados de pesquisas feitas por institutos franceses que haviam sido publicadas por diários suíços, apontando o virtual sucessor de Mitterrand. Impedir a publicação de notícias divulgadas no exterior caracterizaria uma inaceitável forma de censura. A emenda maquinada em Brasília merece o mais contundente repúdio. Ela implicaria o cerceamento ao direito do cidadão de ser informado e constituiria uma afronta à liberdade de imprensa. Texto Anterior: Alô, alô, marciano Próximo Texto: De choro e de juros Índice |
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