São Paulo, domingo, 4 de junho de 1995
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Petronio!

ZECA CAMARGO

"qualquer coreógrafo macho tem que tentar fazer o Bolero"
"De alguma forma, eu já sabia que era gay. Não era só a questão do sexo. Era querer saber sobre artes, idéias e livros"

estrear em Nova York, ``Lareigne", com música especialmente composta por David Lindsay.
``Bolero" não é meio clichê?
Bom, a vida é cheia de clichês. Mas eu cheguei lá a partir de um trabalho de alguns anos, quando eu montei ``A Sagração da Primavera". Eu comecei a pensar na dança deste século... Bom, qualquer coreógrafo macho tem que tentar fazer o ``Bolero", pois é um desafio, você tem que experimentar. Além do que, essa é uma das grandes canções populares do século, tinha que passar por ela.
Quais são as outras grandes sucessos pop deste século?
Sex Pistols, Elvis... Na verdade, meu ``Bolero" começa com ``Love Me Tender" de Elvis. Mas não sei se o Brasi vai ver isso, porque quem dança sou eu e não sei se vou poder dançar por enquanto. Não sei nem se vou poder viajar.
Por quê?
Machuquei feio minha perna. Feri um ligamento do meu joelho.
Dançando?
Foi um desses acidentes esquisitos, uns dez minutos antes de eu entrar no palco. Acho que eu tomei muito café nesse dia.
Você bebe muito café?
Eu sou famoso por ``fazer muito" muita coisa.
Você tem alguma dieta especial?
Nos últimos seis anos eu fiz uma dieta muito restrita de carboidratos e pouca gordura. Mas no ano passado eu dei uma relaxada, porque já estava me dando nos nervos.
Você dorme muito?
Pouquíssimo. Por exemplo, agora na Itália, durmo no máximo três horas. Acho que ando excitado. E não tem bada a ver com drogas, pode escrever isso.
Tanta hiperatividade significa que você exige muito de seus bailarinos?
Claro! Eu geralmente termino o ensaio com eles olhando para minha cara como se eu fosse louco. Felizmente, eles tem uma grande tolerância para isso. Eles conseguem entender que meu trabalho é só sobre rapidez, velocidade -e resistência. Mas, geralmente, eles me dizem quando estão cheios.
E você dá ouvidos a eles?
Apenas se o ensaio tiver terminado.
Como foi sua primeira passagem pelo Brasil?
Acho que foi há três anos, muito rápido. Só fiz algumas apresentações no Rio e em São Paulo, no mesmo festival. Tinha só uma noite e tinha que dividir com Michael Clark.
Foi bom? Gostava da dança dele?
Bom, Michael e eu estávamos namorando na época -por isso eu gostava de qualquer coisa dele.
Vocês dançavam juntos?
Ele tinha sua companhia e eu a minha, fizemos só algumas coisas juntos. Não era fácil para os bailarinos seguir bem os dois estilos. Enquanto estávamos juntos, nós até tentamos fazer com que eles aprendessem os dois estilos, mas eles eram tão diferentes que não deu.
Você chegou a dançar alguma coreografia de Michael?
Claro. Mas era muito difícil. Eu sempre achava que eu estava fazendo passos meus na dança dele. Era interessante. Mas eu acho que nem os bailarinos dele nem os meus achavam isso tão interessante.
Se você namora alguém da mesma áera surge muita competição, certo?
Nós competíamos muito. Mas eu o ajudava muito e ele me ajudava muito. Havia muita inspiração. Mas depois de um tempo, a coisa já não era tão saudável.
Não é perigoso misturar vida emocional e profissional?
É sempre perigoso. Eu arruinei vários relacionamentos ótimos por causa disso. Em algum ponto dos meus 20 anos eu me impus uma regra de nunca namorar um bailarino de novo. Mas quando encontrei Michael, eu disse: ``não vai dar certo". Por muito tempo eu resisti em trabalhar com ele, já prevendo ``o começo do fim". Mas se não traba-

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