São Paulo, segunda-feira, 5 de junho de 1995
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O artista e as formas

VICTOR KNOLL

da Idéia do belo não preexistir à experiência, já não pode ser vista como um duplo (arquétipo), mas, antes, algo derivado da realidade sensível e, ainda, que a Idéia não se põe como transcendente e, sim, como um produto do conhecimento humano. A presença aristotélica domina o palco teórico.
O ``Maneirismo" ergue-se contra a rigidez das regras e em particular das regras matemáticas. A representação do espaço que repousava para os renascentistas sobre uma teoria racional da perspectiva, desaparece em favor de uma maneira quase medieval de compor ``que amontoa as formas em um único plano" (pág. 74).
A arte ``maneirista" se caracteriza por um dualismo: defende com ardor a liberdade do artista, mas faz da arte também um objeto racionalmente ordenado. As regras não podem ser totalmente descartadas. A composição requer regras. Trata-se de um confronte entre o gênio e as regras. Já não mais se trata de estabelecer os fundamentos práticos da criação, mas da exigência de sua legitimidade teórica. A interrogação se desloca do operacional para o especulativo. Da pergunta ``como o artista representa algo belo?" passamos para esta: ``como são possíveis em geral a representação artística e sobretudo a representação do belo?" (pág. 83). Pela primeira vez procura-se resolver a questão da representação artística no âmbito estrito da especulação. Resulta o reconhecimento que há um acordo entre os procedimentos do artista e os procedimentos da natureza. Na origem do ``retrato interior", a Idea, não está a percepção, mas a imaginação. O ``desenho interior" assume o caráter de um dom e, mesmo, de uma graça divina. Há algo de divino no artista.
O Neoclassicismo se definiu em relação ao Maneirismo do mesmo modo que o Renascimento o fez em relação à Idade Média. A acusação é a mesma: ``a ausência de um estudo sistemático da natureza". Bellori ``volta a afirmar que a idéia não reside a priori no homem, mas deriva a posteriori da intuição da natureza"(pág. 103). De um lado, a Idéia deve governar a arte do pintor, de outro, a visibilidade da natureza conduz o artista à idéia. Procura-se o ``meio-termo entre a imitação da natureza e o triunfo sobre a natureza" (pág. 103). Bellori promove um retorno ao Renascimento. Temos aqui, mais uma vez, a tentativa de conciliar o espírito e a natureza.
O Neoclassicismo, ao combater os naturalistas e os maneiristas, assumiu um programa que define, tal como a entendemos hoje, a ``estética idealista". Pela primeira vez se dá a metamorfose da Idéia em ``Ideal". Belori ``não se cansa de acumular argumentos visando a estabelecer que o homem pintado ou esculpido é -ou pelo menos pode e deve ser- mais perfeito do que o homem real" (pág. 107).
A obra de arte passa a ser o lugar privilegiado da beleza. O ``Ideal" como sensibilização da Idea abre as portas para a concepção romântica da arte e se converterá no instrumento conceitual para a sua compreensão. A partir de então a teoria da arte foi dominada pela oposição entre ``Naturalismo" e ``Idealismo" que na prática artística ecoa no final do século 19 e início do 20 no Impressionismo e no Expressionismo.

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