São Paulo, segunda-feira, 5 de junho de 1995
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Mostra paralela vê cem anos de fotos italianas

FREDRICK THOMASSON
ESPECIAL PARA A FOLHA, DE VENEZA

A exposição ``O Eu e seu Duplo: Um Século de Fotografia de Retratos na Itália" vai reunir mais de 300 trabalhos de 200 fotógrafos no Pavilhão Italiano, em Veneza.
Virtualmente, todos os fotógrafos italianos importantes estão representados.
Este é um evento paralelo à Bienal de Veneza, que abre para o público no próximo domingo e que agora comemora seu centenário.
O show está dividido em cinco períodos cronológicos, começando com um prólogo que cobre as décadas anteriores a 1895.
Os outros períodos cobertos são de 1895 a 1918, de 1919 a 1945, de 1946 a 1968 e, finalmente, de 1969 a 1995.
Todos os gêneros principais estão representados, do fim do século e do nascimento do Futurismo, nos anos próximos à Primeira Guerra Mundial, até fotógrafos contemporâneos de correntes diversas como fotojornalismo e fotografia ``artística".
A maneira como a imagem fotográfica e o retrato mudaram em suas curtas histórias (menos de 200 anos), oferece uma visão soberba das fortes semelhanças entre fotografia e arte convencional.
É interessante lembrar também, que 1895 foi marcado ainda pela invenção do raio-X, outra invenção fotográfica que mudou a maneira como o homem se enxergava.
Outras transformações como essa estão presentes nessa exposição, assim como vários exemplos de cruzamento fértil entre a pintura e a fotografia.
Não por acaso, a polêmica série ``Morgue", do fotógrafo Andres Serrano (na qual ele registrou cadáveres no necrotério), vai ser uma das peças fortes da Bienal de Veneza, que, com curadoria do francês Jean Clair, vai ter o tema ``Identidade e Alteridade".
Arquivo
A exposição de fotografias foi organizada pela Fratelli Alinari, uma dos nomes mais importantes da fotografia na Itália.
A empresa foi fundada em 1852 e tem mais de um milhão e meio de fotografias na sua coleção -um dos arquivos mais antigos e importantes que existem.
Por cento e cinquenta anos, a Alinari forneceu fotos para todo o mundo, especialmente trabalhos que envolvam arte, arquitetura e imagens de importância histórica.
Eles também são responsáveis por um museu (leia texto abaixo). O projeto mais recente da Fratelli Alinari chama-se ``Alinari 2000 - Preserve Nossa Memória".
A idéia é colocar todo seu arquivo em CD-ROM e oferecer um serviço ``on-line". Vai ser possível consultar o arquivo e comprar imagens de qualquer lugar.
Por ocasião da Bienal de Veneza, eles estão lançando já um CD-ROM junto com o catálogo convencional da exposição ``Um Século de Fotografia de Retratos na Itália".
O CD-ROM vai ter 118 fotos escolhidas entre a mais de 300 da exposição e vai permitir consultas interativas.
Ainda na mostra, a Fratelli Alinari vai montar um estúdio em meio às fotos em exibição. Num cenário que vai lembrar um estúdio de fotografia de século 19, os visitantes da mostra vão poder ter seus retratos tirados.
Dez fotógrafos contemporâneos serão convidados a dirigir sessões de foto, durante alguns dias.
Unindo velhos métodos com a nova tecnologia digital, o ``cliente" vai sair imediatamente com uma cópia digital da foto, e uma fotografia ``de verdade" vai ser mandada depois para sua casa.
Dessa maneira, a Alinari indica as possibilidades do futuro da foto, mas também deixa claro que a fotografia convencional, através de processos químicos, não vai desaparecer.
Ao contrário, talvez a revolução digital vá liberar de vez a fotografia da sua reputação de simplicidade e reprodutividade.

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