São Paulo, quarta-feira, 7 de junho de 1995
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Acervo particular sobre Quilombo dos Palmares será doado a arquivo

CARLOS ALBERTO DE SOUZA
DA AGÊNCIA FOLHA, EM PORTO ALEGRE

O historiador Décio Freitas, 72, que acredita possuir o maior acervo particular de documentos sobre o Quilombo dos Palmares, deverá doar hoje o material ao Arquivo Histórico do Rio Grande do Sul.
Freitas, autor do livro ``Palmares, a Guerra dos Escravos", lançado no início da década de 70, pretende editar as cerca de 500 páginas datilografadas que extraiu de 200 documentos, fotocopiados em Portugal, onde pesquisou o assunto durante seis meses, em 1975, e em outros dois períodos, em 1978 e 1980.
``O material que não utilizei poderia ser usado por outros", disse Freitas, que começou a se dedicar ao tema em 1966, quando vivia exilado no Uruguai.
Para ele, apesar de tudo que já se produziu sobre Palmares, a história do quilombo ``ainda está por ser escrita".
O historiador agrupou por assunto as cerca de 500 páginas que pretende editar, resultantes dos documentos fotocopiados principalmente no Arquivo Histórico Ultramarino, na Biblioteca da Ajuda e na Torre do Tombo, em Portugal.
Há documentos sobre temas como, por exemplo, o casamento poliândrico (mulher casada com vários maridos) adotado em Palmares, a identificação da mulher de Zumbi, dados da vida e da morte do líder negro, a língua palmarina etc.
Conforme Freitas, não existe esse tipo de material em bibliotecas brasileiras. A publicação seria uma homenagem aos 300 anos da morte de Zumbi, comemorado neste ano. O historiador considera que Zumbi foi o único ``herói popular" brasileiro.
Para Freitas, a tese de que Zumbi teria sido homossexual, defendida pelo antropólogo Luiz Mott, presidente do GGB (Grupo Gay da Bahia), é um ``disparate".
Formado em história pela Universidade de Montevidéu, Freitas diz ter concluído que Zumbi era um ``esquerdista radical", que adotou a ``concepção do tudo ou nada, do vencer ou morrer".
Ele disse que, se tivesse prevalecido a política de Ganga Zumba, outro líder do quilombo, ``muita coisa" de Palmares teria sido salva.
O historiador disse ``ser muito pessimista" em relação à ``causa" do negro no Brasil.

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