São Paulo, quarta-feira, 7 de junho de 1995
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Vivendo dentro do orçamento

LUIZ ANTONIO FLEURY FILHO

Considero-me ofendido e prejudicado moralmente com as matérias ``Despesas de Fleury superam rendimentos" (Folha, pág. 1-6, 5/6/95) e ``Fleury tem gastos mensais superiores aos seus rendimentos" (``Folha da Tarde", pág. A-8, 5/6/95).
Gostaria de dizer que as matérias publicadas não são corretas e partiram de uma afirmação inverídica, supostamente atribuída a membros do Conselho Superior do Ministério Público Estadual.
No dia 2 de junho fui procurado pela Folha. Os jornalistas me disseram que o Ministério Público, através de alguns de seus procuradores, tendo à frente o dr. Luiz Antônio Marrey, havia levantado informações dando conta de que eu estaria gastando mais do que ganhava e que, por isso, seria solicitada abertura de inquérito para apurar a questão.
Segundo a Folha, meus gastos somariam R$ 47.500,00 e meus rendimentos ficariam em torno de R$ 10 mil. De acordo com os jornalistas, os procuradores apontaram os seguintes gastos: R$ 11 mil com o escritório da av. 9 de Julho; R$ 4.000,00 com a casa do Pacaembu; R$ 11 mil com dez funcionários do escritório; R$ 950,00 com a escola de meus filhos; R$ 1.200,00 com a manutenção de minha casa e de dois carros, o que totalizaria R$ 28.150,00. Os outros R$ 19.350,00 eram atribuídos pelos procuradores a despesas extras.
Por considerar os valores absurdos e irresponsáveis, apresentei os números reais, colocando-me de forma transparente à disposição da Folha. Mas os dados fornecidos não foram devidamente considerados.
Disse que a despesa de R$ 11 mil com o escritório inexistia, como de fato inexiste. O imóvel pertence ao senador Gilberto Miranda (PMDB-AM) e está cedido gratuitamente, por comodato, ao Centro de Estudos Ano 2000, entidade sem fins lucrativos devidamente registrada em cartório e cuja organização presido, mas que é dirigida por minha mulher, Ika Fleury.
Na reportagem da Folha, no quadro publicado em coluna à direita da página, surge a informação de que o gasto com o escritório é de R$ 12 mil. Informação totalmente falsa. Mostrei que as despesas com 11 funcionários do escritório representavam R$ 13 mil, mas que não podiam ser atribuídas a mim, já que eram pagas pelo Centro de Estudos.
Confirmei que pagava R$ 4 mil pelo aluguel da casa do Pacaembu e corrigi a informação dos gastos com a escola dos meus filhos. Os procuradores, segundo a Folha, declararam que eu gastava R$ 950,00, mas mostrei que o valor correto é R$ 804,88. Com a manutenção de minha casa, gastaria R$ 1.200,00, segundo os procuradores. Eu disse que não tinha os valores, mas que poderia ser um pouco mais. Foi então publicado que esses gastos seriam de R$ 3 mil. Com base em quê?
Mesmo admitindo que os gastos de R$ 3 mil atribuídos pela Folha estejam certos, o que de fato não ocorre, somados às despesas com escola e o aluguel da casa do Pacaembu, isso daria um total mensal de R$ 7.804,88. Como publicou-se que ganho R$ 13.500,00 (o que também não é verdade, pois tenho recebido em caráter eventual mais do que os R$ 10 mil mensais regulares, em função de diferenças salariais que estão sendo pagas a todos os promotores e procuradores de Justiça), além da renda de R$ 1.500,00 mensais (do aluguel de meu apartamento na r. São Carlos do Pinhal), daria para pagar todas as minhas contas e sobrariam R$ 5.695,12 para outras despesas e aplicações.
E a Folha omitiu ainda outro dado que forneci: recebi uma boa quantia no final do ano passado referente a férias atrasadas, o que foi motivo de reportagens nos principais jornais do país. Apliquei o dinheiro e dele recebi rendimentos. E nada foi mencionado.
A matéria diz que minhas despesas somam R$ 36.500,00, quando na verdade minhas despesas pessoais não ultrapassam os R$ 10 mil. Quanto às despesas do Centro de Estudos 2000, os números levam o leitor a crer que são extremamente elevados, a começar pelo fato de assegurar que o aluguel é de R$ 12 mil, quando esse custo é zero. Mesmo assim, misturar despesas pessoais com as do centro seria o mesmo que contabilizar aos acionistas da Empresa Folha da Manhã S.A. as despesas que a empresa tem com o jornal.
O absurdo é tão grande que, entre as despesas que me são atribuídas, estão também os gastos com o programa de rádio, no valor de R$ 4.500,00. Esse número é incorreto, mas mesmo que fosse verdadeiro não poderia entrar na soma de minhas despesas pessoais, pois é o Centro de Estudos quem paga as faturas, embora muitas rádios divulguem o programa gratuitamente -como disse para a Folha, mas a informação foi desconsiderada.
Todas as despesas do Centro de Estudos 2000 são cobertas pelos seus sócios, estando ele com dinheiro em caixa para fazer frente a todos os seus gastos.
A Folha afirma que mudei meu padrão de vida. Ora, mudar de casa não significa mudar o padrão. Meus filhos continuam frequentando a mesma escola -com exceção do mais velho, já na faculdade. Aliás, gostaria de fazer uma ressalva. Ao publicar o nome das escolas onde meus filhos estudam e suas fotografias e ao me atribuir gastos absurdos, a reportagem pode colocar em risco a segurança deles.
A matéria diz que frequento o restaurante Massimo, o que é verdade, mas na maioria das vezes lá estou como convidado. Também diz, no título de uma das retrancas, que ``Ex-candidato duvida de contas", quando na sexta passada, ao ser procurado pelos jornalistas, o ex-candidato Barros Munhoz não confirmou essa informação.
Alerto também que a lei 8.429, supostamente citada pelos procuradores para abrirem investigações a respeito do meu padrão de vida, prevê, em seu artigo 19, que constitui crime a instauração de procedimento quando o autor da denúncia sabe que o acusado é inocente.
Com todos os esclarecimentos prestados e confiando no Ministério Público que tanto procurei fortalecer, reafirmo que minha declaração ao Imposto de Renda está à disposição da Justiça para eventuais esclarecimentos, mas reitero que não posso aceitar a denunciação caluniosa, sem base em fatos concretos, movida unicamente por objetivos políticos. Afinal, como sempre aconteceu, minha família e eu estamos vivendo dentro do orçamento.

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