São Paulo, quarta-feira, 7 de junho de 1995
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Homem ao leme

A Argentina passa por sérias dificuldades. A firmeza que o governo Menem tem mostrado ao enfrentá-las, porém, é um sinal auspicioso. O atraso de uma semana no pagamento dos servidores públicos é sem dúvida lamentável. Mas demonstra que o equilíbrio orçamentário é de fato uma prioridade.
Já a tradição brasileira contrasta por falta de determinação. Aqui não há quem negue, por exemplo, que a inflação precisa ser duramente combatida. Quando se trata de proceder aos cortes de gastos, entretanto, interesses corporativos e fisiológicos opõem-se sem o menor escrúpulo e ameaçam a meta com a qual eles mesmos concordam. E em diversos casos o governo cede.
O reconhecimento de que a gestão Menem está agindo de maneira transparente, corajosa e responsável não deve obscurecer, porém, o fato de que o alcance de sua atuação está especialmente limitado em algumas frentes. A estabilização da economia foi baseada na paridade do peso ao dólar. E o governo evidentemente não controla a demanda pelas exportações argentinas, nem o movimento de capitais.
Assim, depois de receber cerca de US$ 24,5 bilhões de recursos externos entre 90 e 93, o setor financeiro da Argentina viu-se duramente afetado no início de 95, quando o fluxo de capitais reverteu-se em decorrência da crise do México.
As exportações, por sua vez, resistiram à valorização do peso graças ao crescimento das importações do Brasil, responsável por 60% da recuperação na balança comercial registrada este ano. A desvalorização de 20% do dólar frente ao marco e de 35% em relação ao iene, desde abril de 1991, também ajudou a evitar que o déficit comercial argentino fosse ainda maior.
Se de um lado não se podem negar as sérias dificuldades e limitações com que a nação vizinha se depara, de outro, é preciso reconhecer a segurança transmitida por ter alguém de mão firme ao leme.

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