São Paulo, quarta-feira, 7 de junho de 1995
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Página virada, sem glória

CLÓVIS ROSSI

SÃO PAULO - O presidente Fernando Henrique Cardoso tem toda a razão ao dizer que a aprovação da emenda que quebra o monopólio do petróleo vira uma página da história brasileira.
Pena que a página esteja sendo virada sem glória, ao contrário do se poderia imaginar sempre que a roda da história atinge um ``turning point" qualquer.
A questão dos monopólios virou um tema de salão, que não empolga a rua, ao contrário do que ocorreu faz meio século com a campanha do ``petróleo é nosso", embrião simbólico da Petrobrás.
O tal de povo parece intuir que seu destino não se joga nesse Fla-Flu estatal x privado. O mundo é um pouco mais complexo do que isso.
Há países com monopólios variados (França e Alemanha, por exemplo) em que a qualidade de vida é infinitamente superior à da Argentina, digamos, que rompeu recentemente todos os seus monopólios. E há países com monopólios, caso do Brasil do último meio século, nos quais a felicidade nacional bruta só fez deteriorar-se mais e mais no período.
Suspeito, por isso, que a melhor frase a respeito da emenda do petróleo pertença ao deputado Delfim Netto (PPR-SP), tal como a reproduziu ontem o ``Painel" desta Folha:
``Se for aprovada, será um fato importante, mas inconsequente. Mas, se por acaso ela não for aprovada, será um desastre. Porque se criou a idéia de que tudo depende disto", analisa o ex-ministro.
É esse o ponto. O Brasil parece condenado a viver de ``turning points" que, descobre-se depois, não ``turn" coisa alguma. Ora é a idéia de que as eleições diretas são a panacéia universal para todos os males e não apenas para uma insuportável deficiência institucional. Ora é o Plano Cruzado ou o Plano Collor. Ora, é a Constituinte.
Agora, é a hora das reformas na Constituição, que, por sua vez, era faz pouco a salvação eterna da pátria.
E as páginas vão sendo viradas sem que a pátria encontre o seu grande destino, como se dizia nos discursos e ordens do dia de ontem, de hoje e, muito provavelmente, de amanhã.

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