São Paulo, quarta-feira, 7 de junho de 1995
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Casa de chantagens

GILBERTO DIMENSTEIN

BRASÍLIA - As principais fontes do Congresso avaliam que deve ser aprovada hoje a quebra do monopólio do petróleo. Embalado por números favoráveis, o presidente Fernando Henrique Cardoso já canta vitória. Há, porém, pelo menos um motivo para cautela: o jogo de chantagens.
De fato, até ontem à noite todas as previsões, inclusive entre os defensores, indicavam o fim do monopólio -e, diga-se, por expressiva vantagem. ``O governo está se sentindo como em final da Copa do Mundo. Vamos ganhar de goleada", alardeia o vice-líder do governo, Jackson Pereira. Excesso de otimismo?
O próprio presidente comanda um feroz corpo-a-corpo. A reforma constitucional aguçou a vocação de mercado persa do Congresso, onde cada grupo aproveita para tirar um naco dos recursos públicos -e o governo acaba entrando no jogo de sua base parlamentar.
Os ruralistas são os campeões da chantagem e ainda negociam facilidades financeiras, que já custaram cerca de R$ 900 milhões ao contribuinte. A constelação do lobby é riquíssima.
A bancada amazônica, por exemplo, defende dos privilégios da Zona Franca de Manaus até menor demarcação de terras indígenas. A bancada maranhense quer cargos para seus Estados. Os líderes do PP, PL e PTB exigiram ontem empregos a seus parlamentares.
Não é à toa que, reservadamente, articuladores do governo não se cansam de repetir que a CUT e os petroleiros foram seus maiores aliados na quebra do monopólio.
Deve-se reconhecer que, por vias tortas, a CUT prestou um relevante serviço à modernização da economia e atração do capital estrangeiro. Várias vezes maior do que os chantagistas que formam a base de sustentação oficial no Congresso.
PS - O baronato e seus lobistas atacaram medidas de contenção do crédito, anunciando o caos. Subindo desde janeiro, a inflação de maio caiu e está menor do que as previsões dos consultores -e, caiu, em especial, no item alimentação. Mais uma razão para os trabalhadores desconfiarem da histeria de determinados setores empresariais, viciados em inflação.

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