São Paulo, quinta-feira, 8 de junho de 1995
Texto Anterior | Próximo Texto | Índice

União só pagará parte da dívida ao BB

DA SUCURSAL DE BRASÍLIA

O secretário do Tesouro, Murilo Portugal, deixou claro ontem que o BB (Banco do Brasil) não receberá integralmente os créditos inadimplentes que têm contra a União.
Segundo o BB, seus créditos junto à União somam R$ 3,75 bilhões. O Tesouro Nacional só reconhece R$ 2,2 bilhões em dívidas junto ao BB.
``A parte mais antiga desta dívida será paga com moedas de privatização, que são negociadas com deságio no mercado secundário", disse o secretário.
Ou seja, as moedas que serão usadas no pagamento da dívida valem menos que o valor de face e, portanto, são inferiores ao valor do débito.
O anúncio foi feito em depoimento do secretário do Tesouro Nacional e do presidente do BB, Paulo César Ximenes, à Comissão de Fiscalização e Controle da Câmara dos Deputados.
A dívida da União do BB se originou em um período de ``promiscuidade" entre o banco e o Tesouro Nacional, disseram Ximenes e Murilo Portugal.
Os débitos se referem a empréstimos de alto risco feitos pelo BB com garantia do Tesouro e que não foram pagos nem pelo devedor nem pela União, além de empréstimos diretos ao governo federal e impostos pagos a mais pelo BB.
Após reconhecer R$ 2,2 bilhões de dívidas junto ao BB, o Tesouro estuda agora o reconhecimento do restante -cerca de R$ 1,55 bilhão- e a forma de pagamento, que será em dinheiro e também em moedas de privatização.
Os empréstimos com garantia do Tesouro são financiamentos feitos a mando do governo federal. Incluem calotes de usineiros alagoanos durante o governo Collor, a produtores de café e a estaleiros.
Em muitos destes empréstimos, a ordem do governo para que o BB contratasse o financiamento foi informal.
Nestes casos, Portugal disse ontem que o Tesouro Nacional não vai reconhecer a dívida com o BB, que terá que bancar o prejuízo.
Estatais
Só dez de 160 empresas estatais renderam lucros à União no ano passado, segundo Portugal.
O total de lucros pagos à União, na forma de dividendos, foi US$ 157 milhões, contra um montante investido pelo governo de US$ 45 bilhões.
``A União teria ganhos muito maiores se aplicasse estes recursos em outro tipo de aplicação".
A rentabilidade das estatais pode ser ainda menor. Isto porque três das dez estatais que pagaram dividendos à União no ano passado eram bancos -Banco do Brasil, BNB e BNDES- que repassaram lucros obtidos com a inflação em 1993.
Mesmo nestas condições, outros bancos federais como a CEF (Caixa Econômica Federal) e o BASA (Banco da Amazônia) não repassaram lucros à União.
Neste ano, as estatais vão repassar lucros obtidos em 1994. Como naquele ano a queda da inflação afetou a rentabilidade dos bancos oficiais, a lista das estatais lucrativas pode ficar ainda menor.
A empresa mais rentável na lista de 1994, o Banco do Brasil, não pagará nada à União ou a seus outros acionistas em 1995, pois teve prejuízo no ano passado.
O BB pagou à União US$ 26 milhões, ou 1,41% do patrimônio investido pela União em 1994.

Texto Anterior: ABI quer se desvincular de denúncias de fraude
Próximo Texto: Juro livre deixa bancos apreensivos
Índice


Clique aqui para deixar comentários e sugestões para o ombudsman.


Copyright Empresa Folha da Manhã S/A. Todos os direitos reservados. É proibida a reprodução do conteúdo desta página em qualquer meio de comunicação, eletrônico ou impresso, sem autorização escrita da Folhapress.