São Paulo, quinta-feira, 8 de junho de 1995
Texto Anterior | Próximo Texto | Índice

Vamos privatizar o governo

CARLOS HEITOR CONY

RIO DE JANEIRO - O governo é maior, custa mais à nação e opera pior do que a Petrobrás e outras estatais. Sustenta um quadro de marajás, de funcionários fantasmas, de aposentadorias extravagantes, de mordomias indecentes. Não é capaz de cumprir uma de suas funções mais agradáveis, que é arrecadar. Para cada real que consegue captar, deixa outro real sair pelo ralo da ineficiência da máquina fiscal e pelo buraco negro da corrupção.
A solução é privatizar, entregar o comando a pessoas e grupos eficientes, sem corporativismos, que tenham como prioridade a geração de lucros e desenvolvimento.
Evidente que deve haver uma licitação honesta, aberta ao capital transnacional. Algumas empresas familiares em dado momento apelam para a profissionalização, e os resultados são esplêndidos.
É o caso do governo. Não vem dando certo há muito tempo, apesar da relativa rotatividade de mando. O que está errado é o sistema: entregar o comando de uma sociedade emergente a amadores que são professores, militares, engenheiros e, da noite para o dia, são obrigados a agir como executivos catimbados, com anos de estrada na cúpula da livre empresa.
Para dar exemplos: a Coca-Cola, a Budweiser, a Sony, são muitas as empresas de grande porte que poderiam gerir o negócio com mais eficiência, sem os vícios que os governos herdam uns dos outros. Evidente que poderiam formar pools, inclusive com empresas nacionais, desde que honestamente habilitadas e comprovadamente bem-sucedidas.
É por aí que resolveremos o problema. Privatizar empresas públicas não basta se o responsável por elas, que é o governo, permanece como a mais ineficiente, a mais perdulária e, em alguns casos, a mais corrupta das estatais.
Quando os japoneses compraram metade dos Estados Unidos, ninguém pensou em mudar a bandeira de listras e estrelas. Tampouco o hino. Mas se bandeira e hino atrapalharem a negociação, que sejam trocados. Os árabes, no apogeu da Opep, compraram mais de metade da Europa. Mas não foram bestas de acabar com o uísque escocês, o vinho francês e a cerveja alemã.

Texto Anterior: Petróleo e empulhação
Próximo Texto: PFL 2000
Índice


Clique aqui para deixar comentários e sugestões para o ombudsman.


Copyright Empresa Folha da Manhã S/A. Todos os direitos reservados. É proibida a reprodução do conteúdo desta página em qualquer meio de comunicação, eletrônico ou impresso, sem autorização escrita da Folhapress.