São Paulo, domingo, 11 de junho de 1995
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Alta de tarifas pode levar inflação a 3%

CARI RODRIGUES
DA SUCURSAL DE BRASÍLIA

O aumento das tarifas públicas municipais e estaduais em junho pode elevar o índice da inflação em São Paulo para mais de 3% no próximo mês.
A Fipe (Fundação Instituto de Pesquisas Econômicas) estima que o principal impacto será o reajuste das tarifas de ônibus.
Em maio, o IPC (Índice de Preços ao Consumidor) calculado pela Fipe ficou em 1,97%. O aumento das passagens de ônibus em São Paulo ainda não foi anunciado oficialmente, mas deve ficar em torno de 30%.
Em algumas capitais a inflação poderá subir até dois pontos percentuais em julho de acordo com o acúmulo de aumento de tarifas no mesmo período.
Os Estados e municípios têm autonomia para legislar sobre tarifas públicas, mas o secretário de Acompanhamento Econômico do Ministério da Fazenda, José Milton Dallari, tem negociado com prefeituras e companhias de saneamento básico o índice dos reajustes.
O objetivo do governo é evitar que o aumento das tarifas públicas ameace o Plano Real em meses estratégicos para a manutenção de sua estabilidade -junho, julho e agosto.
Com as empresas municipais de transporte, Dallari fez um ``acordo de cavalheiros", escalonando os reajustes tarifários por grupos de Estados. O objetivo era diminuir o impacto dos aumentos sobre a inflação.
Os secretários de Transportes de Porto Alegre e Brasília comprometeram-se a fazer os aumentos em julho e os anteciparam para junho, conforme o secretário de Transportes de Salvador, Miguel Kertzman.
Cumprir o acordo depende da necessidade de sobrevivência das empresas, alega Kertzman. Em Salvador, o reajuste foi de 42,86% no dia três de junho. Dallari classificou o percentual de ``fora da realidade".
O reajuste das tarifas de ônibus tem se aproximado ou superado 32,88%, índice correspondente à variação do IPC-r (Índice de Preços ao Consumidor do real) acumulado de junho de 94 a maio.
O aumento das tarifas públicas municipais e estaduais terá pouco reflexo em junho graças aos itens vestuário, mensalidades escolares, aluguéis e alimentação.
A expectativa é que estes setores tenham uma variação mais baixa, segundo o coordenador da Fipe, Heron do Carmo, compensando reajustes de tarifas como ônibus, água e esgoto.
As prefeituras e governos estaduais alegam que os reajustes das tarifas foram calculados com base nas planilhas de custos.
Dallari não quer briga com os prefeitos e governadores, mas ameaça com processo por abuso econômico e limitação dos avais da União para empréstimos externos aqueles que repassarem índices acima dos custos.
O secretário de Transportes de Salvador alega que enfrentou dois dissídios coletivos dos funcionários -em agosto de 1994 e em maio de 1995. Os salários foram reajustados em 70% e as passagens estão congeladas desde junho do ano passado.
Kertzman tem outras justificativas para o reajuste: houve aumento da demanda do número de passageiros, a quilometragem da frota de ônibus subiu 14% e os gastos com combustíveis também cresceram. ``Estamos dispostos a conversar com Dallari e comprovar que as planilhas estão corretas", diz ele.
Na área de saneamento, o reajuste dos produtos químicos para manter a qualidade da água foi acima do IPC-r em várias cidades e as prefeituras também enfrentaram dissídios coletivos, afirma o superintendente-executivo da AESB (Associação das Empresas de Saneamento Básico Estaduais), Walder Suriani.
Segundo ele, os reajustes devem ser feitos para que as prefeituras possam também seguir seus planos de investimento. Dallari não concorda e solicita aumento da produtividade.
Ele ainda tem longas negociações pela frente: as companhias estaduais de energia e os produtores de cana-de-açúcar reivindicam aumentos acima de 30%.
O reajuste do preço da cana-de-açúcar tem uma repercussão direta sobre o preço dos combustíveis -o álcool. O setor reivindica 33% de reajuste imediato. Dallari pediu para os produtores esperarem até setembro.

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