São Paulo, domingo, 11 de junho de 1995
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FHC nocauteia esquerdas em um ano

FERNANDO DE BARROS E SILVA
ESPECIAL PARA A FOLHA

Se no mundo inteiro a esquerda não sabe o que fazer para deter a marcha forçada do capitalismo triunfante, no Brasil ela dá sinais de estar em situação ainda pior. Foi à lona, nocauteada sob os pés de Fernando Henrique Cardoso.
Entre o que representava Luiz Inácio Lula da Silva há apenas um ano, quando ainda era o favorito na corrida presidencial, e o que restou da imagem dos petroleiros depois da humilhante derrota que lhes impingiu o presidente, pode-se ver um único processo acumulando fracasso sobre fracasso da esquerda brasileira.
Este fiasco de proporção histórica mede-se pelo confinamento a que se submeteram todo o PT e seu braço sindical, a CUT (Central Única dos Trabalhadores).
Nem mesmo o mais otimista dos liberais arriscaria dizer em junho de 94 que as duas maiores organizações da esquerda do país estariam de joelhos um ano depois.
Se isso é correto, não é menos verdade que Lula e a esquerda sobreviveram ao primeiro impacto da maré neoliberal. Derrotadas por Collor, as esquerdas se reorganizaram em torno da candidatura petista. Até pelo menos junho de 94, pareciam dar o pleito presidencial como algo liquidado a seu favor.
O erro começou aí. Talvez antes, no momento em que, ao negar sua participação no governo Itamar Franco, o PT jogou suas fichas no fracasso do ``presidente-tampão". Fracasso este que seria traduzido em insatisfação popular a ser facilmente catalisada pela candidatura de Lula.
Globalização
Só que havia o Real no meio do caminho. E atrás dele um futuro presidente que, desde muito cedo, havia percebido que sua única chance seria tomar carona no discurso da globalização.
Dito e feito. Fernando Henrique não só ganhou a eleição como corre o risco de passar à história como o presidente que quebrou a espinha da esquerda brasileira.
É como se FHC dissesse: este tipo de sindicalismo, que vive à custa dos monopólios herdados de um Estado obsoleto e confunde seus interesses corporativos com a defesa do interesse nacional é, ele também, um dos pilares do nosso atraso. Será obrigado a mudar junto com a abertura da economia e a reforma do setor público.
A Folha entrevistou cinco intelectuais que votaram em Lula para falar sobre o atual momento da esquerda. Se nenhum deles aceita a tese do ocaso da esquerda, ninguém esconde que a maré, desta vez, ficou muito adversa.

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