São Paulo, domingo, 11 de junho de 1995
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PT aposta na exclusão social

FERNANDO DE BARROS E SILVA
ESPECIAL PARA A FOLHA

Há dentro do próprio PT quem pense que a crise do partido se deve à ausência de um discurso econômico mais consistente, capaz de lidar com problemas ``menores", como o combate à inflação.
Essa é, por exemplo, a posição do economista Paulo Nogueira Batista Jr., simpatizante e colaborador do PT.
Desde a campanha presidencial, quando alertou os colegas que o Plano Real não iria virar pó do dia para noite, como defendia o grupo do ex-deputado Aloizio Mercadante, ele vem comprando brigas com o ``staff" econômico de Lula.
``A esquerda brasileira ainda é prisioneira de um discurso econômico populista, que perdeu a eficácia e não convence mais", diz Nogueira Batista. Os exemplos disso são vários.
``A tendência ainda hoje no PT é a de se subestimarem os problemas financeiros e fiscais do Estado e propor gastos sem ter a preocupação de identificar fontes de financiamento não-inflacionários", diz.
Nogueira Batista defende que, para começar a tirar a esquerda do atoleiro, seria preciso primeiro perceber que hoje a ``expectativa eleitoral das populações é baixíssima".
``As pessoas acabam votando em quem oferece segurança econômica, o que, na América Latina, é quase sinônimo de estabilidade monetária", afirma.
O que ele diz tem base empírica. Os atuais presidentes do Brasil, México, Argentina, Bolívia e Peru foram eleitos em cima de um discurso voltado para o controle da inflação.
A socióloga Maria Victoria Benevides, professora da Faculdade de Educação da USP, também atribui a enrascada em que está metido o PT ao êxito do Real.
``O sucesso do plano empurrou o PT para uma espécie de vazio. Ficamos falando da necessidade de incluir os excluídos enquanto estes excluídos estavam seduzidos pelo real", diz.
Mas, diferentemente de Nogueira Batista, ela aposta no colapso do plano. ``Quando o Real degringolar, vai chegar o momento em que o governo FHC vai ter de se explicar no plano social".
Essa parece ser a aposta maior dos petistas. Em meio à confusão teórica e paralisia prática em que estão mergulhados, eles vêem no aprofundamento da exclusão social uma espécie de tábua de salvação de suas posições políticas.
É o que diz, por exemplo, o cientista político Marco Aurélio Garcia, secretário de Relações Internacionais do PT.
``Hoje o desemprego cresce com o crescimento da economia. O capitalismo entrou num nível brutal de desfuncionalidade. No Brasil isso só não é mais sentido porque nós temos uma exclusão anterior", diz Marco Aurélio.
O grande tema a ser enfrentado pelo PT, conclui ele, ``é a intersecção da exclusão passada com a exclusão futura". Isso no plano teórico. Porque, na prática, pelo que diz Marco Aurélio, não há muito para ser feito. ``Sofremos uma grande derrota e, por ora, só nos resta atuar na defensiva".

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