São Paulo, domingo, 11 de junho de 1995
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Intelectuais vêem 'truculência'

FERNANDO DE BARROS E SILVA
ESPECIAL PARA A FOLHA

Os intelectuais ligados ao PT romperam um pacto de cordialidade que vinham mantendo com o presidente Fernando Henrique Cardoso em razão de seu passado acadêmico e até ideológico.
Já há entre eles quem classifique de ``canalhice" o esmagamento a que o presidente submeteu a CUT e sua FUP (Federação Única dos Petroleiros).
Se, durante a campanha eleitoral, FHC foi acusado de ``traição", depois da greve, o termo mais usado para definir seu governo é ``truculência".
``O efeito desorganizador que o Fernando terá sobre a esquerda só pode ser obtido através da truculência. E é o que ele está fazendo", diz o cientista político Marco Aurélio Garcia, secretário de Relações Internacionais do PT.
``E sua truculência aparece não só na forma como reagiu à greve, mas também na constituição de sua base política, que se faz através do fisiologismo mais clássico", completa Marco Aurélio.
Wanderley Guilherme dos Santos, outro observador do meio acadêmico que não é filiado ao PT, mas votou em Lula, também não poupa o presidente.
Segundo ele, FHC tem mostrado ``um rosto bem diferente daquele que está sempre sorridente, gentil, educado".
Nada disso, diz Wanderley. ``Quando vê um inimigo enfraquecido, ele vai na jugular. E é bom que o movimento sindical saiba disso. Ele vai até onde pode", afirma Wanderley, professor de Ciência Política da Universidade Federal do Rio de Janeiro (UFRJ).
Para o economista Francisco de Oliveira, pesquisador e ex-presidente do Cebrap (Centro Brasileiro de Análise e Planejamento), o qual FHC também já presidiu, o governo agiu com o intuito de ``esmagar o movimento sindical e conseguiu, por enquanto, seu objetivo".
Agora, diz ele, está condenada qualquer tentativa de aproximar o PT do governo. ``Se o PT ficou isolado, o governo mostrou que não quer parceria nenhuma com qualquer movimento de trabalhador. O Fernando cortou de caso pensado o último fio social-democrata que poderia aproximá-lo da esquerda", diz.
Oliveira também vê prejuízos para FHC: ``O que ele fez revela uma falta de visão de longo prazo, que não se deveria esperar de alguém tão capacitado como ele".
Mas a reação mais enfática com a atuação de FHC vem da socióloga Maria Victoria Benevides.
``Estou indignada. Esse é o pecado mais irremissível e sem perdão do Fernando Henrique, uma pessoa que tem passado e conhecimento da história das lutas operárias", diz ela. ``Isso é a pior canalhice que ele poderia ter feito. Antonio Carlos Magalhães (senador, PFL-BA) não faria melhor", conclui.
(FBS)

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