São Paulo, domingo, 11 de junho de 1995
Texto Anterior | Próximo Texto | Índice

Empresa começa ajuste com demissões

CARLOS ALBERTO SANDENBERG
DA REPORTAGEM LOCAL

A Cesp, Companhia Energética de São Paulo, maior estatal do governo paulista, começou o ano com 19,8 mil funcionários. Em maio, estava com 14,98 mil. E, em julho, estará com 12,8 mil.
Esse corte de pessoal é apenas a parte mais visível da política de ajuste que vem sendo implementada pelo presidente da empresa, Andrea Matarazo.
Seu objetivo de curto prazo é fazer uma economia de R$ 790 milhões no orçamento deste ano, incluindo corte de despesas, redução de investimentos e ganhos de receita.
Esse ajuste representará quase um terço do faturamento previsto para este ano, de R$ 2,8 bilhões.
No médio prazo, o objetivo é transformar a Cesp, uma megaestatal falida, em empresas menores e especializadas. E aí iniciar a privatização.
Matarazo assumiu em janeiro, no início do governo Mário Covas. Encontrou na Cesp três características típicas de estatais monopolistas. Primeira, a empresa não tinha departamento de custos.
A estatal simplesmente não sabia quanto custava produzir, transmitir e distribuir um quilowatt de energia.
Segunda característica: a estatal é eficiente na sua finalidade básica: produzir e distribuir energia.
Ela entrega um bom produto ao seu consumidor. Mas, é um desastre na administração.
Terceira: endividamento caótico e crescente.
O desastre na administração tem vários indicadores. Apenas 55% dos funcionários trabalhavam em produção e distribuição de energia.
Havia, portanto, 45% nas atividades de apoio. Hoje, já são 70% nas atividades-fim.
Foram extintos 150 órgãos administrativos e eliminadas 230 funções gratificadas. Havia um gerente para cada grupo de 31 empregados. Hoje, a proporção é de um para 40, ainda elevada.
A administração da empresa, na cidade de São Paulo, estava espalhada por oito prédios. Agora, está concentrada em quatro. Foram liberados 9.800 metros quadrados de escritórios.
Os 34 armazéns para depósitos de material estão sendo reduzidos para 14. Tudo somado, o corte de despesa já alcançou R$ 170 milhões.
A meta era R$ 212 milhões no orçamento deste ano, mas Matarazo acha que pode ser maior.
Haverá também um corte de investimentos, sem afetar a atividade básica da empresa. Ocorre que a Cesp havia sido desviada de sua finalidade.
Quando levanta hidrelétricas, a empresa sempre é obrigada a fazer obras compensatórias, para arrumar estragos deixados pela usina.
Mas, acontece que, por injunções políticas, a Cesp foi levada a construir estradas, urbanizar bairros e asfaltar vias municipais.
As máquinas estavam por ali, o prefeito pedia ao governador e eis a Cesp transformada em construtora. Só com a suspensão dessas obras, a economia neste ano será de R$ 80 milhões.
Também é decisão de governo que a Cesp não vai mais colocar um centavo sequer nas usinas de Porto Primavera e Canoas, que estão incompletas. Elas serão concluídas em parceria com sócios privados.
O corte total de investimentos será de R$ 300 milhões, sempre no orçamento deste ano.
Finalmente, nessa parte do ajuste, a Cesp pretende ganhar dinheiro com a venda dos prédios e terrenos não-operacionais. São nada menos que 4.250 imóveis, muitos ocupados de maneira absolutamente irregular.
Ao lado do reservatório da usina de Rosana, na região do Pontal do Paranapema, extremo oeste do Estado, a diretoria da Cesp encontrou 70 casas construídas em local da usina. Trata-se de uma invasão, já que as pessoas não tiveram autorização, nem pagaram pelo uso do terreno.
Mas, não se trata de um problema social. Não são casas de gente que não tinha onde morar. São mansões de 400 metros quadrados, um condomínio de veraneio, em terreno público e reservado.
Não é o único caso. Há ilhas formadas pelos reservatórios também ocupadas por mansões e clubes de campo.
(Carlos Alberto Sardenberg)

Texto Anterior: São Paulo vai dividir empresas de energia
Próximo Texto: Cesp vai captar recurso externo
Índice


Clique aqui para deixar comentários e sugestões para o ombudsman.


Copyright Empresa Folha da Manhã S/A. Todos os direitos reservados. É proibida a reprodução do conteúdo desta página em qualquer meio de comunicação, eletrônico ou impresso, sem autorização escrita da Folhapress.