São Paulo, domingo, 11 de junho de 1995
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Roqueiros só pensam naquilo

ANDRÉ FORASTIERI
ESPECIAL PARA A FOLHA

Por alguma razão bizarra, o Dia dos Namorados costuma ser retratado como algo fofinho, inofensivo. Um ursinho de pelúcia. Como música pop.
Rock é outro departamento. Muito já se falou sobre as diferenças entre música pop e rock'n'roll. Inventei outra agora. Pop fala de amor. Rock fala de sexo.
É a diferença entre Pat Boone e Elvis, entre Beatles e Stones, entre o Van Halen de hoje e o Van Halen de antigamente. Para você ter uma idéia como o amor é desimportante no rock, o R.E.M. só foi botar ``love" num título de música em seu sexto disco. Aliás, uma boa música para amanhã: ``The One I Love".
Então, antes de escolher a trilha sonora para esta romântica data junina, você precisa decidir: quer passar um romântico Dia dos Namorados ou uma suada noite dos namorados?
Optou por romance, ouça pop. Qualquer coisa da Motown ou Stax dos anos 60 tem o clima certo, além de declarações descabeladas de amor.
Não que o rock também não permita exageros românticos. O Stone Temple Pilots, por exemplo, garante em ``Still Remains": ``tome um banho/vou beber a água que restar".
``I Want Your Love", do Transvision Vamp, também merece destaque especial: cita 41 vezes a palavra ``love". Mas quando Wendy James canta ``Eu não quero seus carros, seus discos ou seu dinheiro/só quero seu amor", ela estava pensando era em sexo.
Tudo bem, declarações roqueiras como essas não combinam muito com a visão tradicional do namoro. Mas afinal, muitos amores lindos e eternos começaram com uma boa noite de sexo.
Fica mais difícil ainda comprar o romantismo ``fofinho" dos anúncios de shopping porque o amor não é o que costumava ser. De uns tempos para cá, parece que só mulheres e homossexuais assumem seu romantismo -e cada vez com maior desinibição.
Uns anos atrás, Morrissey cantava ``quero te pregar como uma borboleta". Agora, Trent Reznor rosna ``quero te foder como um animal/quero te sentir por dentro" em ``Closer".
E as garotas modernas podem se inspirar em Liz Phair. Ela reinventou o romantismo feminino em ``Exile In Guyville". Liz prega as delícias de transar e sair correndo. Canta coisas como ``quero ser sua rainha da chupeta".
Enfim, vale tudo. E depois de tudo, se você chegou aos finalmentes, a trilha certa é ``Hey Paula", cantado por Paul & Paula. É a música que contém o corajoso refrão: ``Hey Paula, quero casar com você".

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