São Paulo, domingo, 11 de junho de 1995
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Carta deve tratar a mulher como rainha

PATRICIA DECIA; ALESSANDRA BLANCO
DA REPORTAGEM LOCAL

Falar em tom grandiloquente, dirigir-se à mulher amada como a uma rainha e usar sempre de extrema sinceridade. Esta é a receita do escritor norte-americano John Updike, 62, para escrever a carta de amor ideal.
``É preciso falar num tom alto, porque se está pedindo por amor", diz. Segundo ele, a atitude do apaixonado deve ser ``como a de um advogado num tribunal".
O autor, ganhador do prêmio Pulitzer pelo primeiro livro da tetralogia ``Coelhos", falou à Folha por telefone de sua casa em Massachusetts (Estados Unidos).
Para o Dia dos Namorados, Updike escreveu o poema inédito ``A Brazilian Valentine" ("Uma Namorada Brasileira), inspirado em uma mulher brasileira imaginária (leia quadro acima).
``Nenhum homem ou mulher é tão estúpido a ponto de não conseguir escrever uma carta de amor original", dispara.
A justificativa é a diferença entre os seres humanos. ``Amor é um sentimento universal e, por isso, as pessoas dizem coisas semelhantes, mas as experiências humanas formam apenas uma visão básica e você deve tentar sempre encontrar uma maneira diferente de falar sobre elas", diz.
Updike afirma que vem ``escrevendo mensagens de amor por toda a vida". O escritor conta que, aos dez anos, escrevia repetidamente poemas de amor para uma colega de classe. ``Não acho que ela tenha ficado impressionada porque, no final, o amor pede mais do que palavras."
Segundo ele, as palavras são apenas agradáveis e suficientes para uma introdução. ``Palavras são como um envelope, não a mensagem. A verdadeira mensagem é o corpo. O corpo pega fogo. Palavras são apenas um meio de chamar a atenção de outra pessoa. Eu tentei, mas as palavras não me fizeram um garoto mais charmoso ou desejável. Isso era verdade quando eu tinha 10 anos e continua sendo depois dos 60."
Ao contrário de Updike, o compositor João Gilberto, 63, se recusou a dar receitas para cartas de amor. ``Isso é algo muito particular", afirma.
Segundo o compositor, a inspiração vai procurar os namorados. ``Eles devem deixar tudo por conta do amor."
A paixão também é a arma secreta na opinião do escritor Milton Hatoum, 42. ``Você sempre arruma um jeito de escrever algo legal se está apaixonado", diz. Para ele, é só preciso encontrar ``a palavra certa".
(PD e AlB)

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