São Paulo, domingo, 11 de junho de 1995
Texto Anterior | Próximo Texto | Índice

Gênios `babavam' em cartas

ANDRÉ MALTA CAMPOS
DA REDAÇÃO

Se há algo que iguala os simples mortais e os grandes gênios da humanidade são as cartas de amor.
Quem imaginaria que o físico Einstein (1879-1955), aquele da Teoria da Relatividade, escreveu à sua primeira mulher, Mileva Maric, coisas tão singelas como ``fico tão feliz em saber (...) que está engordando, minha querida boneca, para que volte para meus braços feliz e saudável, roliça como um bolinho"?
Ou que Mozart (1756-1791), o grande compositor, fosse capaz de pôr no papel frases como ``quando escrevi a página anterior, alguma lágrima tombou sobre o papel"?
Como bom apaixonado, o físico não se envergonha de sua pieguice -``quando não estou a seu lado, parece que me falta um pedaço"- e lembra a lânguida Elba Ramalho de ``Aconchego": ``É duro ficar sem você vez em quando, parece que falta um pedaço de mim..."
Mozart tinha em 1782 as mesmas dúvidas que dilaceram todo casal -``pensas tanto em mim quanto eu em ti?"- e Einstein, para abrir as cartinhas, usava o velho arroz com feijão (``meu querido anjinho", ``minha querida pequena", ``meu amorzinho" etc).
Em passagens mais quentes, o físico solta frases ousadas do tipo ``meu amor a fará radiante e impetuosa como uma menina travessa" e ``logo estarei com minha querida novamente e poderei beijá-la, abraçá-la, fazer café com ela, rir com ela, conversar à toa... ad infinitum".
Mozart, bem mais exagerado, dizia à sua amada distante: ``A cada instante olho o teu retrato -e choro-, metade de felicidade, metade de tristeza". Várias vezes o compositor perde a noção do ridículo e termina as cartas com o inacreditável ``adeus, beijinhos dulcíssimos chegam voando".
Einstein não escapou dos imprescindíveis (e ruins) versinhos que todo mundo já fez uma vez:
``Doces e ternas melodias
entoa minha ave bela.
Em breve, com alegria,
meu canto unirei ao dela."
Nem quando o momento é de dor-de-cotovelo adianta ser filósofo. Depois de ter seu pedido de casamento recusado, um indignado Nietzsche (1844-1900) escreveu a Lou Andreas Salomé, em 1882:
``Adeus. Não a verei mais. Proteja sua alma contra ações semelhantes e realize melhor com outros aquilo que comigo não tem reparação. Não li sua carta, mas li demais".

Texto Anterior: Carta deve tratar a mulher como rainha
Próximo Texto: Amor paira acima de tudo na tela
Índice


Clique aqui para deixar comentários e sugestões para o ombudsman.


Copyright Empresa Folha da Manhã S/A. Todos os direitos reservados. É proibida a reprodução do conteúdo desta página em qualquer meio de comunicação, eletrônico ou impresso, sem autorização escrita da Folhapress.