São Paulo, domingo, 11 de junho de 1995
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Banco mantém juro mesmo com queda do compulsório

FIDEO MIYA
DA REPORTAGEM LOCAL

Desde 31 de maio, quando o economista Pérsio Arida anunciou sua demissão do cargo de presidente do Banco Central, o governo começou a afrouxar a conta-gotas as medidas de restrição ao crédito adotadas para conter o consumo. Mas o efeito na oferta de empréstimos bancários e no seu custo foi praticamente nulo até agora.
``A preocupação maior dos bancos neste momento é resolver os problemas de inadimplência e ninguém está com apetite para captar mais recursos e ampliar as carteiras de crédito", afirma Walter Kuroda, diretor de planejamento financeiro do Banco Nacional.
No intervalo de sete dias, o governo reduziu em um terço -de 15% para 12% e em seguida para 10%- o percentual sobre empréstimos que os bancos são obrigados a depositar no BC na forma de compulsório.
Essa redução no compulsório equivale a uma diminuição de 0,20% ao mês (2,43% ao ano) no custo de captação de dinheiro pelos bancos, considerando-se uma taxa mensal de 4% (60,10% ao ano) nos CDBs (Certificados de Depósitos Bancários).
Para o cliente de um banco que paga juros no cheque especial de 14% a 15,4% ao mês, aos quais é acrescido um IOF mensal de 1,5%, essa redução é irrelevante.
A Folha apurou que, na prática, não houve redução alguma. É que, com o aumento da inadimplência (calote dos devedores), os bancos aumentaram a taxa de risco de crédito embutida nos empréstimos, neutralizando o efeito da mudança.
Outra medida de abrandamento baixada na semana passada foi a extinção do compulsório adicional de 60% que incidia sobre o dinheiro que os bancos captavam com depósitos a prazo (CDBs) acima de um teto fixado pelo BC.
O banco que excedesse esse teto ficava com apenas 10% do dinheiro para empréstimos, já que existe outro compulsório de 30% sobre depósitos a prazo.
Segundo o vice-presidente do Banco Mercantil de São Paulo, Raul Pereira Barreto, o compulsório adicional de 60% -criado na última semana de abril deste ano- ainda não tinha produzido efeitos sobre a maioria dos bancos.
Isso porque as instituições financeiras já estavam reduzindo suas carteiras de crédito por causa da inadimplência e, consequentemente, diminuindo a venda de CDBs aos investidores.
Segundo dados da Andima (Associação Nacional das Instituições do Mercado Aberto), os resgates de CDBs superaram as aplicações em R$ 2,283 bilhões no mês passado. Sem interesse em captar mais dinheiro, os bancos não aumentaram as taxas de juros desses papéis na semana passada.
Os demais mecanismos de contenção do crédito adotados desde o início do Plano Real continuam intactos, incluindo os compulsórios de 30% sobre CDBs e de 90% sobre depósitos à vista.
Segundo estimativas do mercado, o BC já recolheu cerca de R$ 50 bilhões dos bancos com esses compulsórios. Com isso, reduziu na mesma proporção a capacidade de os bancos emprestarem dinheiro a seus clientes.
Na sexta-feira passada o BC devolveu cerca de R$ 1 bilhão aos bancos, por conta dos três pontos percentuais que foram reduzidos no compulsório sobre crédito em 31 de maio (de 15% para 12%).
Em contrapartida, na sexta-feira anterior, dia 2, os bancos tinham recolhido em torno de R$ 2 bilhões ao BC, por conta do aumento de 3% no compulsório sobre CDBs determinado em abril.
Apesar dos efeitos praticamente nulos, as medidas de abrandamento dos compulsórios foram recebidas com otimismo pelos bancos.
O diretor setorial de crédito da Febraban (Federação Brasileira das Associações de Bancos), Cláudio de Oliveira Torres, afirma que as medidas são ``extremamente positivas", pois mostram que ``o governo está sensível aos problemas causados pelos juros altos".
O vice-presidente do Banco Mercantil de São Paulo diz que ``as medidas são sinalizadoras de que o rumo já está traçado", ou seja, de que daqui em diante haverá redução gradual dos juros.

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