São Paulo, domingo, 11 de junho de 1995 |
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Medidas anticonsumo não derrubam vendas
FIDEO MIYA
Mas não impediu que as vendas a prazo no comércio registrassem índices de crescimento superiores a 30% nos primeiros cinco meses deste ano em comparação com o mesmo período de 1994. O indicador de vendas a prazo do comércio da capital paulista -número de consultas ao Serviço de Proteção ao Crédito (SPC), da Associação Comercial de São Paulo- mostra taxas de expansão de de 49,96% em janeiro, 45,57% em fevereiro, 39,09% em março, 32,02% em abril e 30,89% em maio. O rigor das medidas aumentou entre outubro de 94 e abril deste ano. Desde então, o governo, entre outras coisas, proibiu os bancos de emprestar dinheiro por mais de três meses e exigiu que 15% dos empréstimos concedidos fossem depositados no Banco Central sem nenhuma remuneração. Na tentativa de fechar as portas das compras a prazo, o governo baixou medidas para bloquear as alternativas do consumidor para comprar a prazo. O crédito rotativo dos cartões foi cortado, os consórcios tiveram prazos reduzidos para seis meses e proibidos de formar novos grupos, o leasing (arrendamento com opção de compra) de automóveis foi suspenso. O governo procurou também inibir os cheques pré-datados, proibindo os bancos de fornecer empréstimos para esses títulos, diretamente ou por meio de empresas de factoring, que financiam o crediário das lojas. O cerco ao consumidor foi completado com altas taxas de juros nas aplicações financeiras e mais altas ainda na ponta do crédito -do cheque especial no banco ao crédito direto ao consumidor. O aumento da inadimplência, que começou no comércio em março deste ano, estendeu-se à indústria e aos bancos nos dois meses seguintes, gerou uma avalanche de protestos contra os juros altos que ecoou no Congresso, inclusive entre parlamentares do PSDB, partido do presidente Fernando Henrique Cardoso. O resultado foi que o próprio presidente da República reconheceu que as taxas de juros eram ``escorchantes" e prometeu reduzi-las. Mas essa redução vem sendo feita a conta-gotas, apesar dos sinais de queda do consumo. Para o economista Odair Abate, coordenador do departamento de estudos econômicos do Lloyds Bank, os indicadores disponíveis ainda não permitem diagnóstico claro sobre a consistência e o grau de desaquecimento da economia. Consumo aquecido, explica Abate, representa uma dupla armadilha para a política econômica. Primeiro, porque abre espaço para aumentos de preços, num momento em que o governo prepara um plano para eliminar os mecanismos de repasse automático da inflação passada para preços e salários (desindexação). Em segundo lugar, consumo aquecido significa demanda por produtos fabricados no país ou no exterior e impede saldos positivos na balança comercial, pois as empresas brasileiras exportam menos e importam mais. (FM) Texto Anterior: Entenda como é o mecanismo das restrições Próximo Texto: Desindexar salários é a maior polêmica Índice |
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