São Paulo, domingo, 11 de junho de 1995
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Desindexar salários é a maior polêmica

JOSÉ ROBERTO CAMPOS
DA REPORTAGEM LOCAL

O fim do índice oficial de correção dos salários alterará muito pouco a vida dos grandes sindicatos e empregadores. Metalúrgicos e bancários, que lideram os dissídios pós-desindexação, construíram laços próprios na mesa de negociações salarial ao longo dos anos e podem passar bem sem um índice oficial.
Entre os empresários e sindicalistas ouvidos pela Folha, há divergências teóricas e de princípios e uma unanimidade -enquanto a inflação estiver alta, a reposição salarial integral é a base sobre o qual se basearão os acordos.
``Não vejo dificuldades para compor com livre negociação", declara Lázaro de Mello Brandão, presidente do Bradesco. ``Pode ser mais difícil e exige um exercício diferente do que era praticado anteriormente."
Há anos na linha de frente dos bancos nas negociações com 640 mil bancários do país, Alencar Rossi diz que as grandes categorias conseguirão o repasse do custo de vida para seus salários.
``O automatismo da reposição da inflação continuará existindo enquanto ela se mantiver acima dos 20%", diz.
Rossi ironiza fórmulas que chegaram a ser cogitadas, como a de incorporar parte da inflação futura. ``É fora da realidade negocial, coisa de acadêmicos."
Ricardo Berzoini, presidente do Sindicato dos Bancários de São Paulo, filiado à CUT, antevê que a ausência de uma política salarial oficial ``trará mais tensão às relações trabalhistas".
Não prevê dificuldades adicionais às sempre tensas disputas com o setor financeiro e demonstra confiança. ``Queremos que quem determine o resultado seja a correlação de forças, não a Justiça do Trabalho", frisa Berzoini.
Após uma década de inflação muito alta e um cipoal de leis salariais, não é de estranhar que os interlocutores dos pólos modernos da economia, prestem pouca atenção ao que possa vir de Brasília. Para eles, a realidade é outra.
``A grande maioria das empresas já não segue a política do governo, faz livre negociação e têm política salarial própria", analisa Rubens Branco, sócio-diretor da Arthur Andersen, empresa de consultoria que monitora constantemente as avaliações de 153 grandes e médios empresários, distribuídos quase que igualmente entre São Paulo, Rio de Janeiro e Porto Alegre.
Para Branco, o fim de um indexador para os salários complica mais a vida dos trabalhadores de setores em que as negociações salariais já eram complicadas. As empresas dos setores competitivos comparam as remunerações pagas por suas rivais, observam de perto o que eles estão fazendo e ``não gostam de perder gente", segundo Branco.
Paulo Pereira da Silva, presidente do Sindicato dos Metalúrgicos de São Paulo, concorda com a desindexação desde que o que patrões e empregados fizerem seja a lei. ``Não pode ter este negócio de reajustes só de ano em ano", adverte.

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