São Paulo, domingo, 11 de junho de 1995
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Menos organizados perdem

JOSÉ ROBERTO CAMPOS
DA REPORTAGEM LOCAL

A desindexação dos salários prejudica diretamente os sindicatos menos organizados. Pode atingir também os mais fortes, se o desaquecimento da economia for vigoroso demais. O governo tem lutado para derrubar o consumo e há quem veja na proposta de fim do índice oficial de reajuste dos salários uma peça auxiliar deste objetivo. ``A desindexação faz parte de uma estratégia para reduzir a massa salarial", afirma Sergio Magalhães, presidente da Abimaq (Associação Brasileira da Indústria de Máquinas), entidade que reúne empresas que empregam 230 mil trabalhadores em todo o país.
``Temos repassado aos trabalhadores toda a inflação passada, vamos continuar fazendo isso", estima Magalhães. Para ele, quem consegue defender seu salário hoje continuará conseguindo com a nova política, que, porém, não será indolor. ``Os trabalhadores do Norte, Nordeste e os da agricultura sofrerão, é provável que sua remuneração permaneça fixa", nota.
Uma recessão acoplada à inexistência de um patamar mínimo de reajuste para os salários aumentaria a eficácia do combate contra a inflação. Além de domar a demanda, os trabalhadores teriam suas pretensões contidas. ``A proposta faz sentido se realmente houver confiança na queda da inflação e recessão", afirma Edward Amadeo, economista da PUC carioca e até há pouco um dos interlocutores do governo para a nova política salarial. ``A recessão de alguma forma barra o poder de barganha dos sindicatos e reivindicações de aumentos salariais".
Silvano Valentino, presidente da Anfavea (Associação Nacional dos Fabricantes de Veículos Automotores), revela preocupação semelhante. O desafio, diz ele, é encontrar o momento oportuno para se desindexar de vez a economia. ``Tomara que não seja preciso uma recessão profunda para tornar a operação viável", reflete.
Limpar da economia os reajustes automáticos pela inflação passada, porém, é uma necessidade. ``Na Itália, quando havia este tipo de reajuste, com a escala móvel de salários, a inflação era o dobro da dos demais países europeus", conta Valentino. ``Quando a escala móvel acabou, a inflação caiu de vez".
(JRC)

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