São Paulo, domingo, 11 de junho de 1995
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Sem o monopólio

DEMIAN FIOCCA

Uma vez confirmado o fim do monopólio da Petrobrás nas próximas votações do Congresso, tende a formar-se, ao lado da estatal nacional, um cartel com umas poucas empresas privadas (e talvez alguma estatal estrangeira).
Fontes adicionais de investimento podem assim surgir. Mas é provável que com elas formem-se também as pressões pela elevação das margens de lucro no setor. Isso significa que o preço dos combustíveis e do gás de cozinha tendem a subir ou, alternativamente, que haverá pressões para que o governo conceda subsídios ou isenções fiscais para aumentar lucros sem elevar preços.
O atual subsídio do gás, por exemplo, pode sair da arrecadação de impostos em vez de ser retirado do lucro da Petrobrás, como ocorre hoje. O convencimento dos investidores pode vir também de favorecimentos quando da obtenção das concessões.
Mesmo tendo sido manipulada pelo governo, a recente greve demonstrou que o setor é de fato estratégico. Enquanto a Petrobrás continuar poderosa e estatal, porém, é pequeno o risco de que o futuro cartel (privado ou estrangeiro) possa chantagear significativamente o país.
Assim, a apreensão ou até indignação que a quebra do monopólio causou na maioria das pessoas preocupadas com o interesse público deve-se principalmente ao que ela sinaliza: o avanço de um tipo de ``ajuste" que estabiliza temporariamente o país à custa de maior exclusão social.

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