São Paulo, domingo, 11 de junho de 1995
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Sinais de mudança

LUIZ CARLOS MENDONÇA DE BARROS

A questão do déficit na balança comercial continua a agitar o mercado de câmbio. Na sexta-feira, algumas instituições passaram a apostar em uma mudança iminente dos parâmetros da banda cambial. Apesar do superávit de quase US$ 700 milhões realizado no mercado de câmbio nos primeiros seis dias úteis de junho.
O mercado não está sendo mais influenciado pela entrada líquida de divisas no país, mas por uma eventual correção da taxa de câmbio como solução do desequilíbrio entre importações e exportações.
Existe nos portos do país e em trânsito pelos mares enorme estoque de veículos -fala-se em mais de 100.000- que engordará as importações em junho e julho. Só a partir de agosto é que elas voltarão ao normal. Aí o estrago nas contas de 1995 já estará feito.
Além disso, o mercado especula com o recrudescimento das tensões entre os dois grupos em que se divide a equipe econômica. Sinais claros deste confronto podem ser encontrados nas colunas econômicas de alguns de nossos principais jornais. Todo o mercado sabe que alguns jornalistas reproduzem declarações dadas em ``off" por alguns membros da equipe econômica. Cada lado tem seu porta-voz oficioso.
Alguns analistas começam a entender que o presidente Fernando Henrique precisará detalhar a agenda econômica para o segundo ano do Real. E esta agenda, ao contrário do que aconteceu com a do primeiro ano, não conta com unanimidade em sua equipe. As posições antagônicas em relação ao grau e ao timing da chamada abertura econômica são claros sinais desta realidade. E o mercado começa a ficar nervoso com o desenrolar deste processo.
Como se isto não bastasse, novos sinais de nervosismo começam a vir dos pampas argentinos. A posição do ministro Cavallo, fiador inconteste do padrão ouro do peso, parece bastante frágil neste início de segundo mandato do presidente Menen. Como resultado, os títulos externos argentinos negociados nos mercados internacionais despencaram, trazendo de volta as incertezas ao mercado internacional de capitais.
As coisas estão, portanto, como o diabo gosta.

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