São Paulo, domingo, 11 de junho de 1995
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Modelo chileno é o contraste na crise atual

GILSON SCHWARTZ
DA EQUIPE DE ARTICULISTAS

A economia chilena acumula neste ano um superávit comercial (exportações menos importações) de quase US$ 1,5 bilhão, o equivalente a 3% do produto interno bruto. O total do comércio chileno cresce em 95 cerca de 25% sobre o ano anterior.
O dólar também está passando por um processo de desvalorização no Chile: caiu 11,5% desde o início de maio. Isso prejudica os exportadores, mas é importante notar que os preços internacionais de mercadorias de exportação do Chile, como cobre e celulose, subiram 77% e 104% frente a 1994. E o cobre ainda é em boa medida produzido pelo Estado, favorecendo as contas públicas.
Lá tudo parece dar certo: inflação baixa, liberalização responsável, controle seletivo da entrada de capitais.
As autoridades chilenas têm horror a dinheiro de curto prazo, elixir que andou embriagando economistas em países como México, que acabou quebrando, Argentina, tecnicamente quebrada, e Brasil, que como todo mundo sabe é completamente diferente.
Na semana passada, iniciaram-se formalmente as negociações para a incorporação do Chile ao Nafta (Tratado de Livre Comércio da América do Norte). Negociações com o Mercosul e a União Européia também estão em curso.
Muita gente aposta no modelo chileno como nova vedete latino-americana. Até o sistema de bandas cambiais funciona por lá.
O perigo dessas comparações de resultados é a frequente ocultação do processo que deu origem à fotografia atual. E o primeiro dado que convém lembrar, nesse momento de busca de modelos alternativos, é o desemprego de 20% por que passou a economia chilena, durante a ditadura militar, para conseguir chegar ao que agora parece um paraíso.
Coisas do passado longínquo? Nem tanto, a julgar pela análise da ``Economist". Um pouco na linha do filósofo político italiano Norberto Bobbio, a austera publicação inglesa mostra que apesar do sucesso, da adesão dos social-democratas ao modelo econômico herdado da era Pinochet e da presciência das autoridades que evitam os capitais externos de curto prazo, a velha distinção política continua viva.
Essa análise política talvez ajude a entender os dilemas da política econômica em outros países latino-americanos. Parece que seja qual for o ``mix" de Estado e mercado em cada caso, o contraponto entre esquerda e direita continuará dominando a agenda econômica.
Nesse processo, os liberais mais radicais talvez acabem recuando para salvar os dedos, enquanto os estatizantes mais empedernidos talvez aprendam a ouvir mais a voz do mercado.
Na mitologia ao mesmo tempo sangrenta e paradisíaca que sempre frequentou o imaginário latino, o Chile surge como nova referência ideal, sem utopia nem cinismo. Apenas pragmatismo.

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