São Paulo, domingo, 11 de junho de 1995
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Voto vira julgamento político

HUMBERTO SACCOMANDI
DA REPORTAGEM LOCAL

O voto de hoje decide, além do futuro empresarial de Silvio Berlusconi, o seu destino político.
Um derrota reduz, senão acaba, com as ambições políticas do ex-premiê. Uma vitória pode relançar sua coalizão de centro-direita e levar a eleições antecipadas.
O caso de Berlusconi tem analogias curiosas com o do ex-presidente brasileiro Fernando Collor.
Como Collor, Berlusconi chegou ao poder como uma espécie de ``outsider", um azarão.
Diante da possibilidade de uma vitória eleitoral dos ex-comunistas, ele fundou um partido (Força Itália), aglutinou uma coalizão de centro-direita (Pólo da Liberdade) e venceu a eleição parlamentar de março de 94. Tudo em três meses.
Essa trajetória lembra muito a ascensão meteórica de Collor nos últimos meses da campanha de 89.
Para chegar ao poder, Berlusconi amparou-se no seu império de mídia. A falta de regras de propaganda política permitiu que ele abusasse de seus três canais (50% de audiência) para se promover.
Tudo muito similar ao endosso que Collor teve da TV Globo.
Após sua chegada ao poder, Berlusconi não conseguiu cumprir suas promessas eleitorais. Como premiê, pecou ainda por não separar claramente seus interesses privados dos negócios de Estado.
Ele não chegou a montar um esquema como o Collor-PC Farias, mas transgrediu o limite tolerado até para a flexível Itália.
Seu governo durou pouco, sete meses. Em dezembro, um dos partidos que o apoiavam, a federalista Liga Norte, rompeu com Berlusconi, deixou a coalizão e provocou a queda do premiê.
Essa queda foi apressada pelas denúncias de que o grupo Fininvest teria subornado funcionários do governo para obter negócios e facilidades, em anos anteriores.
Como no caso Collor, a vingança contra Berlusconi não se limita ao alijamento do poder.
Em seu curto governo, o ex-premiê subjugou o Parlamento, humilhou e desafiou o ``establishment" político do país.
Vindo do meio empresarial, Berlusconi rompeu um acordo tácito de não intervenção do meio econômico no meio político.
Sua ascensão foi festejada como o ocaso dos políticos tradicionais e a vitória do modelo administrador-empresário.
Passada a euforia, o meio político tratou de eliminar esse corpo estranho e ameaçador.
Como líder político, Berlusconi acumulava poderes demais para a estabilidade democrática. Além de premiê, ele liderava o segundo maior grupo empresarial do país e um império de mídia.
Um dos objetivos dos plebiscitos de hoje, convocados pelos partidos de centro-esquerda, é evitar que esse acúmulo de poder volte a acontecer.
(HuSa)

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